É ela, Brigitte Bardot; quem, para muitos, ainda, é a mais linda de todas!
A personagem escolhida pela escritora francesa Marie-Dominique Lelièvre é o mito, aquela que o mundo nunca conseguiu deixar de admirar, mesmo tendo nascido outras, tão belas quanto ela.
Brigitte Bardot ganhou uma biografia envolvente, escrita em prosa poética, logo após ter completado 80 anos. Brigitte Bardot é para lá de instigante, como só ela.
A Eva de Vadim é despida num texto tão exagerado quanto sua beleza e sensualidade.
O livro é composto por sentenças incomuns em biografias, pelo caráter excessivamente elogioso, mas que é típico da prosa poética, a exemplo de Longos Dias Têm Cem Anos, de Agustina Bessa-Luís, sobre a artista plástica Maria Helena Vieira da Silva.
Esse detalhe, por falta de costume, pode provocar leve desconforto logo no início da leitura, mas logo é superado pela elegância das frases e pelas ricas analogias de Lelièvre.
Assim, o prazer de viajar pela vida de Brigitte Bardot é o mesmo prazer com o qual costumeiramente pousamos o olhar em suas fotografias ou em seus filmes.
Se Deus criou essa mulher independente, selvagem e arredia, Ele certamente teria o cuidado de eternizá-la.
Dos sentimentos que cercariam Brigitte Bardot ao longo de sua vida, o da rejeição foi o escolhido como ponto de partida para a narração de Lelièvre.
A mãe, Anne-Marie Bardot, dirigia à pequena Brigitte comparações negativas, principalmente em relação à irmã Mijanou: “Felizmente eu tenho Mijanou, pois Brigitte é desagradável, tanto no físico quanto nos seus atos.”
Não sem razão o instinto maternal da musa nunca se revelaria…
O amor por sua própria imagem não foi vencido pelo sentimento incondicional que se costuma ter por uma cria; em seu caso, pelo único filho, Nicolas Charrier, fruto da união com Jacques Charrier.
Trata-se do trecho mais tocante — e, sim, mais chocante — do texto de Lelièvre. A biógrafa chega a citar trechos de Iniciais BB, autobiografia na qual Bardot compara seu filho a um tumor, entre outras escandalosas declarações.
O livro de Lelièvre também passa por todos os grandes amores da atriz.
Ou seria por todos os corações dilacerados pela guardiã de Saint-Tropez?
Fala-se do ator Jean-Louis Trintignant, do cantor Gilbert Bécaud e também dos atores Sami Frey e Jacques Charrier.
Não ficou de fora o fotógrafo Gunter Sachs e, claro, o mais marcante, tanto para Bardot como para a história do cinema, o criador do mito: Roger Vadim.
A fêmea fatal dos anos 1950 e 1960 não é mais dissecada por Lelièvre do que por si própria, por todas as atitudes e declarações ao longo da vida. A biografia Brigitte Bardot ganha, então, pelas belas frases.
A jornalista, que assinou também biografias como a da escritora Françoise Sagan, do cantor Serge Gainsbourg e do estilista Yves Saint Laurent, se assume admiradora de Bardot logo no início, ganhando a absolvição por tantos adjetivos.
O deleite que falta ao livro, contudo, são as fotografias que não ilustram nenhuma das 300 páginas. Um crime sem perdão em uma biografia sobre Brigitte Bardot.
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