O amor é um mistério de Deus e deve ser protegido dos olhos alheios, não importa o que aconteça, escreveu um dia Dostoiévski.
Por isso aprendi a mentir. Mentira deslavada. Mentira que atropela a culpa. Mentira que Deus perdoa.
Porque o amor… O amor… Não se vanglorie do amor. Se te torna vaidoso, talvez não o mereça. Amor está para a gratidão. Porque graça não é mesmo algo que se deva segurar. Ela não se aguenta no olhar de quem sabe que nada merece.
Graça é o dom gratuito de Deus e sua manifestação a mais simples. Se compreender a graça, melhor será capaz de amar.
Assim, aconselho que se acostume a não falar do amor. Deixe-o aparecer nas pequinesas da vida.
Acostume os seus próprios olhos a encontrá-lo por aí, como se brinca com criança que crê ingenuamente que pode se esconder. Se o amor fosse menos dito, mais seria percebido.
Acostumamo-nos aos dizeres.
Acostumamos os nossos outros aos dizeres, e só de dizeres querem viver. Às favas o amor dos gestos! Pouco importa se ele existe em saliva quente ou na gentileza mais servil.
Sobre o amor lemos e ouvimos canções, ansiosos para que irrompa dentro, mas não é milagre que sucede fora? Amor é milagre que se dá na cognição, que muda a vida em segundos. Desista de entendê-lo e ceda a seus efeitos. Desista de operá-lo na linguagem.
Amor é beleza dos dias de chuva. É de quem percebe mil nuances de cinzas, de quem não tem medo do úmido toque do ar. Amor mora no canto do inefável, paralelo mundo que só convida os de refinada capacidade de não pensar em si mesmo e enxerga.
Sou outra desde que aprendi a tornar o amor o silêncio perfeito, silêncio até das feições. Amor se tornou o meu mundo paralelo, onde caibo por completo, sem fingir, sem esconder, sem mentir, e só eu sei onde é.
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