Big Little Lies é sobre choro escondido. É sobre conquistas que têm mais sentido fora de nós do que dentro de nós. É sobre um mundo de aparências.
É também sobre casas magníficas e lares despedaçados. Sobre o pôr do sol dos sonhos, todos os dias, além de camas de sangue, algo que ninguém deseja verdadeiramente.
Big Little Lies, a série da HBO, criada e escrita por David E. Kelley, é baseada no livro da escritora australiana Liane Moriarty. Os episódios são dirigidos por Jean-Marc Vallée e contam a história de Madeline, Celeste e Jane.
Além de Renata e Bonnie.
As estrelas que dão vida a elas são Reese Witherspoon, Nicole Kidman e Shailene Woodley.
Além de Laura Dern e Zoë Kravitz.
Os homens são Alexander Skarsgård, Adam Scott, James Tupper e Jeffrey Nordling.

Por que assistir Big Little Lies?
Pelo elenco, pela fotografia, pelo drama. E principalmente pelas questões mais no subsolo.
Claro! Pela trilha sonora também. Michael Kiwanuka, The Alabamas Shakes, lindas regravações do Elvis. Em caso raro, a trilha sonora está dentro da trama de Big Little Lies.
É quando entra em cena a pequena e encantadora Chloé, vivida por Darby Camp, filha mais nova de Madeline, personagem de Reese Witherspoon. Chloé é responsável pelas cenas que nos mostram porque a vida cotidiana – sobre a qual tantas vezes reclamamos – vale a pena. E que gosto musical tem Chloé!
No elenco infantil de Big Little Lies estão os sentidos construídos. A alegria, a esperança, a doçura, a oportunidade de escolher melhor porque assim o futuro permite.
Big Little Lies não é apenas uma série sobre donas de casa ricas que tentam esconder as dores do casamento e da maternidade surfando nas ondas do remorso, do tolhimento, do precipício que seduz muito algumas de nós.
Assistindo aos episódios, é possível resgatar Betty Friedan, em seu postular Mística Feminina, quando nomeia esse tipo de cenário interno como “cisão esquizofrênica”. Como isso cabe às mulheres de Big Little Lies?
Na pergunta que nunca se cala: como algumas mulheres podem ser lindas, ricas, amadas e mesmo assim não estarem satisfeitas?
A pergunta é um tanto quanto ridícula. Quem ainda a profere, mesmo de maneira sincera, esquece de considerar algo um pouco mais profundo e sério: por que à mulher não é permitido o espaço da dúvida?
Sem recriminações, sem castigos, sem julgamentos. Big Little Lies é sobre recriminação, castigo e julgamento.
Um crime é o centro da trama na primeira temporada e todos os personagens se conectam porque os filhos frequentam a mesma escola. Quem morre e quem mata só se descobre no último episódio. E são apenas sete.
A narrativa é amarrada com historietas de infidelidade, violência, medo, frustração e ódio. As pequenas mentiras são muitas e a grande mentira é ver para saber.
Ou antevê quem entende o maior dos dramas da modernidade: a possibilidade de escolha não garante a felicidade – e de quebra ainda tira do prumo porque a falta de referência desnorteia da mesma forma – ou de maneira pior, uma vez que parece que a falta de sentido amplia-se como se pudesse nos engolir.
Questões importantes da agenda feminista também são abordadas, mas como contraponto – até porque não adianta mesmo discursos bem escritos quando o amor, a paixão, o sexo e principalmente a vaidade entram em jogo. Teorias sempre vão por terra, sempre, quando nossa humanidade emerge.
E quase sempre quando estamos a sós.
Celeste que o diga. I’m a victim of loving you. I’m victim of wanting you, canta Charles Bradley na música tema de Celeste.
O cinismo em Big Little Lies impera. As mulheres de Big Little Lies sabem se unir, embora também saibam se voltar violentamente umas contra as outras, quando oportuno. Nada novo debaixo do sol.
A fotografia é outro forte da série. Gravada em Monterey, na Califórnia, traz cenários estonteantes com suas casas com paredes de vidro. Quem não gostaria de sofrer com vista para o mar? A história original, contudo, se passa na Austrália. Trivialidade.
Nicole Kidman está deliciosa, em todos os sentidos. Reese Witherspoon é uma versão aparentemente só histérica, mas guarda sentimentos e ressentimentos muito cotidianos. Quem aponta o dedo para ela tem três dedos apontados para si. Clichê.
Big Little Lies é clichê, mas não é clichê. Porque mentimos mesmo todo o tempo. As mulheres, principalmente. As que conquistaram tudo. As que deixaram conquistas por amar demais. As que não conseguiram conquistar e dizem para os outros que o que têm basta, ainda que por dentro morram aos poucos. As mulheres que existem.
Ao assistirmos o rancor de Madeline, a covardia de Celeste, o arrombo em Jane, a solidão de Renata e a humanidade de Bonnie, é possível resgatar outra vez Betty Friedan. As mulheres de Big Little Lies tem a capacidade de optar e criar seu próprio céu ou inferno.
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