Cartinha para o delfim

Foi uma experiência muito estranha pegá-lo em minhas mãos pela primeira vez, naquela noite. O dia 16 jamais esquecerei. Como nos enganamos pensando que já sentimos tudo…

Foi como entrar em um mundo paralelo, no qual os significados de tudo o que eu conhecia não serviam mais. O meu maior desafio, a partir daquele momento, era entender que só seríamos felizes se eu fosse capaz de abrir o portão dessa fortaleza que construí em meio ao mar em mim.

Eu sei, chegar em mim é sempre uma aventura. Embora nada seja premeditado. Defendo-me com o dizer de Adélia, “Tudo pulsando à revelia de mim”.

Não era porque eu não sabia o que fazer com você. Era porque eu nunca soube o que fazer comigo.

Você me obrigou a sair de mim e a confiar na ordem da vida. A única certeza que eu tinha era a de ser capaz de começar do zero quantas vezes fossem necessárias. Eu só precisava respirar fundo para recomeçar a partir de você.

E recomecei.

Haverá ainda muitos dias em que eu não saberei o que fazer com você, comigo, com a vida que me roubaram quando pela primeira vez eu me sentia tão bem como sou, sem por nem tirar.

Sem por nem tirar, que lindo que você chegou. E só aparentemente eu cuido de você. Porque a verdade mesmo é que você cuida muito mais de mim.

Em seus olhinhos só eu caibo, enquanto a imensidão cabe nos meus. Mas sábio é você, que se contenta com tão pouco…

Com você, aprendi a apreciar como nunca os pequenos prazeres do cotidiano. Todos os sábados arrumamos gavetas e significados. Brincamos com água e sabão e desejamos apenas dormir lado a lado.

Cada furinho nas meias é um carinho e um dizer de que há coisas mais importantes do que essas que eu busco incansavelmente… Do que esses.

Você me espera verdadeiramente todos os dias e eu não sei o que mais há para se desejar.

 

Dedicamos a Diogo Nabarro.

 

 

 

Eliana de Castro Escrito por:

Fundadora da FAUSTO, é escritora, mestre em Ciência da Religião e autora do romance NANA.

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