Clay Jensen é o maior personagem de 13 Reasons Why

Clay Jensen é o maior personagem de 13 Reasons Why.

O garoto de 17 anos, vivido pelo ator americano Dylan Minnette, é simples, quase desajeitado, aparentemente covarde, mas abriga em seu jeito de ser sem afetação a única alternativa para o desespero: o amor.

Quem sente na própria pele o desespero de Hannah Baker, personagem de Katharine Langford, que se mata e apresenta os treze motivos para ter feito tal coisa, pode, em vez de se ver refletido na dor do menosprezo, aprender a reconhecer em Clay Jensen o amor.

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Dylan Minnette. Personagem Clay Jensen de “13 Reasons Why”

Porque em Clay está o amor enquanto tal, em sua forma mais banal, cotidiana e sutil. O amor sem elaboração. Certamente, refiro-me ao sentimento que hoje quase ninguém reconhece em sua real forma, principalmente porque se tornou muito idealizado e embrulhado em mil folhas de “direitos”. Mas o amor – quem é capaz de negar, se reparar bem – não é um sentimento que vive à beira do patético?

Clay Jensen é o jovem que quase ninguém deseja imitar. Quem é semelhante a ele se olha no espelho e quase nunca é capaz de se enxergar virtuoso. Ao contrário, pode até sentir que está o tempo todo em falta. A maior delas é a tal da originalidade.

Mas muitos se enganam. Originalidade às vezes é artifício de quem tem o que esconder. A personagem secundária, Hannah Baker – e afirmo ser secundária sem medo de errar – ganha, no argumento, de todos os seus inimigos, só não de Clay Jensen. Não há, nos treze episódios da série, algo que o faça desistir de ser ele mesmo – um valor que Hannah percebe e reconhece, embora nem Hannah e nem ninguém o inveje.

O que Clay Jensen apresenta em todos os momentos – e nas tentativas de encaixar o que é impossível de encaixar, o suicídio como alternativa para os problemas da vida – são formas de amor quase imperceptíveis em um mundo que valoriza a esperteza. Clay não é o nadador esperto, Clay é o que não sabe boiar e se afoga quase sempre porque vê a imensidão de água ao redor, a vida, e não sabe o que fazer para contê-la. Só que ninguém repara em quem não é esperto.

Ainda que Clay supostamente acredite que não possa seguir em frente como se nada tivesse acontecido, e há nele culpa por não ter “salvado” seu amor pueril, essa culpa é mais uma prova de suas virtudes. Há boas perspectivas na culpa, ela norteia de alguma forma para uma vida menos egoísta. Mas em um mundo guiado pelo “eu primeiro”, culpa é quase um block de redes sociais, o que não vejo não sinto. Quem percebe mais sempre se afoga. Não há virtude sem sofrimento.

Clay Jensen é o maior personagem de 13 Reasons Why porque quando abre mão da possibilidade de ser esperto, torna-se livre. Sempre é livre quem não vive para seus direitos. A esperteza tende a nos levar à posição de merecedor de tudo e ao desejo desenfreado de ser primeiro em tudo. Uma das falas finais de Jensen é a mais linda de toda a série que, sim, é passível de não ser apreciada por esse viés de beleza.

Definitivamente, a grandeza de 13 Reasons Why está em Clay Jensen e suas virtudes, mais do que necessariamente ser um retrato de nosso tempo. E justamente por isso a série pode não ser compreendida. Sofisticação para além das aparências requer inteligência.

A esperança apresenta-se na forma de um garoto que não se importa em ser aparentemente fraco. Porque é mesmo só aparentemente. Como o amor, Clay é quase imperceptível. Este foi o erro de Hannah.

Eliana de Castro Escrito por:

Fundadora da FAUSTO, é escritora, mestre em Ciência da Religião e autora do romance NANA.

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