Da generosidade

Há vaidade que se veste de generosidade, mas é vaidade.

É possível descobrir a diferença entre uma e outra porque o “generoso” nunca permite uma relação entre iguais. Ele sempre tem que ser o mais “doador”, o que “sabe” mais, o “abnegado”. O “generoso” cuida, inclusive, para que o outro não cresça, ou cresça apenas na medida em que possa mostrar ao mundo que se não fosse por ele… Oh!

“Generosidade”, neste caso, soa quase como um lugar no mundo no qual é possível atuar sem enfrentar o que há de mais controverso em si mesmo. Vaidade, neste caso, torna-se até uma excentricidade boba diante do que pode haver escondido atrás da “generosidade”.

O “generoso” também não conhece bem o significado das palavras responsabilidade e autonomia. Tudo é culpa de alguém e o outro com quem se foi “tão” generoso deve viver em função de aplacar frustrações ad infinitum.

“Generosidade”, neste caso, é uma forma de investimento. Espera-se de volta tudo o que se deu, na mesma medida ou mais. Afinal, o amor não é um direito? Acreditam os “generosos” que sim, e ai de quem for incapaz de devolver. Ressentimento é grito estridente do próprio valor.

Nada, contudo, é mais contrário ao caráter do real generoso do que o retorno como manutenção. O real generoso, aliás, age pela libertação, jamais pela submissão.

Há outra diferença, mais fácil de perceber, entre o “generoso” e o real generoso: a verdadeira generosidade é completamente silenciosa. “Não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita.

Assim, generosidade e gratidão fluem como um rio, inevitáveis, impossíveis de conter, e em total silêncio. E a experiência de gratidão que o ato e o silêncio provocam – juntos – essa sim é ensurdecedora.

Porque a graça é de fato insuportável. “A boca fala do que está cheio o coração.

 

Eliana de Castro Escrito por:

Fundadora da FAUSTO, é escritora, mestre em Ciência da Religião e autora do romance NANA.

Os Comentários estão Encerrados.