Minha lembrança mais remota, referente à escrita, é de quando eu ainda não era alfabetizada, mas um pertence do meu irmão me fascinava.
Eu subia na cama de minha mãe para pegá-lo, em cima do guarda-roupa antigo de madeira maciça. Era uma máquina de escrever Remington.
Em NANA, a personagem levou apenas um objeto para sua nova vida. Quando saí de casa, só peguei a máquina de escrever do meu irmão.
Os móveis daquele quarto também me fascinavam, eles tinham um selo de qualidade, datados do fim do século XIX. O quarto ainda não era assombrado, então eu ficava por ali mesmo, teclando sem parar. Eu devia ter uns 5, 6 anos. Eu apreciava o tec, tec, tec; sobretudo o som de quando se pulava a linha.
Disciplina é um valor que mexe com dores profundas.
Canalizei minha raiva para a disciplina e tudo andou. Todas as leituras disciplinadas, pós-faculdade, me levaram à primeira grande conquista: estudar na FAAP. E estudei como bolsista. Essa história é magnífica, mas não contarei aqui.
Do mesmo jeito, fiz mestrado na PUC. Foi quando consegui um mecenas. Eu era disciplinada — ou, talvez, para ele, uma obcecada. Hoje somos os melhores amigos. Esse nome revelarei porque não conheci uma figura pública que fosse tão melhor nos bastidores quanto ele: Leonardo Gonçalves.
O Leonardo Gonçalves pagou os meus estudos.
O Leo não me deu apenas a chance de me formar, mas o milagre de transformar a química de minhas emoções. Foi através dos seus gestos de generosidade que percebi que eu havia perdoado minha mãe.
Existe uma mentalidade por trás da minha disciplina. Ela não é por mero resultado, menos ainda por competitividade.
Disciplina é um chamado.
Uma pessoa disciplinada nunca é uma pessoa fácil. E eu sei que não sou.
Sou educadíssima, carinhosa sem medida, mas firme demais para que me convençam de que as coisas devem ser de outro modo, menos do que me faz jus.
O primeiro conselho, portanto: prepare-se para ter menos amigos.
Porque disciplina é um espelho.
Os preguiçosos, invejosos e ressentidos em seu entorno se verão nele e jogarão em você todas as frustrações que eles guardam em seus corações.
Sou da literatura, mas meus ídolos estão no esporte. Na infância, eu adorava Ayrton Senna por razões além. Eu ficava enfeitiçada quando reportagens mostravam aquela grandeza toda praticando corrida. Aquele jeito doce de falar, porém firme, era lindo!
Porque não compreendemos bem o que significa disciplina, não conseguimos aplicá-la em nossa vida.
Hoje, nas brincadeiras diárias, me comparo ao Cristiano Ronaldo. Aliás, amo biografias de atletas. A autobiografia da Maria Sharapova tocou-me muitíssimo. Eles, como ninguém, sabem canalizar a raiva para o único objetivo que desejam.
Nuno Cobra, treinador do Senna, lançou seu livro A Semente da Vitória em 2001. Comprei quando saiu e o devorei. Foi também nos meus 19 anos.
Olha que interessante: estou me dando conta de que meus 19 foi uma idade de grandes — e amargas — viradas…
Disciplina é vantagem competitiva.
Disciplina também é uma das melhores formas de autoconhecimento pelos sentidos. Testamos nossos valores, nossos limites, experimentamos um leque vasto de sentimentos que nos tornam mais interessantes.
Os corpos tão invejados de celebridades e influenciadores não dizem apenas sobre beleza, dizem sobre disciplina. Agora, quando aplicamos a disciplina em algo que os olhos não alcançam de primeira, a disciplina presenteia com uma luz sublime e altamente sedutora.
Eu não leio um livro de Machado de Assis, eu leio a obra completa de Machado de Assis. Eu traço paralelos. Eu leio comentadores. Eu sei que preciso ter base para dizer que Memórias Póstumas de Brás Cubas não é o grande livro da literatura brasileira; e, que, sim, Lima Barreto é maior do que Machado.
Conversa fiada.
Em que esse blá-blá-blá pode ajudar no seu dia a dia, em sua pesada rotina para sobreviver, para ser minimamente livre, para cuidar dos seus com dignidade, sem chorar tanto?
No seguinte:
Disciplina não é um mero espaço que você encontra em sua agenda para fazer algo constantemente que o levará ao que deseja.
Disciplina é a consciência da única coisa que não podem roubar de você.
Vou repetir!
Disciplina é a consciência da única coisa que não podem roubar de você.
O roubo é uma constância, é diário, começa dentro de casa; às vezes, por parte de quem você mais ama.
É a partir dessa consciência que a raiva se torna o combustível ideal para você se tornar quem sonha.
Cairão por terra a inveja, o ressentimento, a preguiça, o vício de olhar para os outros…
Tenha claro o valor do seu tempo. Não entregue para os outros o que sequer pedem. Caso peçam, atenda, mas aprenda a encerrar compromissos, conversas e não fale mal de outras pessoas. Disciplina é aprender a falar, a se portar.
“Ah, mas sou obrigado a…”
Eu já fui obrigada a ficar dentro de um ônibus, diariamente, para ir trabalhar, por cerca de 2h30. Nessa época não havia Kindle… Livros!
Troque o tempo nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp por aprendizado.
Você jamais precisará ler toda a obra de alguém. Essa é a minha obrigação por ofício.
Dentro da sua realidade, o que você jamais permitiria que lhe roubassem?
O roubo dos nossos sonhos, da nossa subjetividade, do nosso tempo nos causa um choro profundo, um choro emaranhado, um choro que precisará do dobro, do triplo do tempo para cessar, por isso é importante que você saiba o que jamais permitirá que lhe roubem.
Chorei bastante para escrever esse capítulo. Chorei porque a disciplina é meu ponto de virada, sim, manejo-a muito bem; mas, como para todo mundo, ela é um desafio diário, como a fé.
Não escrevi NANA porque sou disciplinada. Escrevi NANA porque não permiti que me roubassem algo. E eu sei que algo é esse.
Não escrevi Valha-me Deus porque sou romancista e esse é meu trabalho, escrevi para recuperar algo.
Disciplina é o amor pela rotina.
Rotina é o amor que amadurecemos por nós mesmos.
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