FAUSTO faz 2 anos: como tudo começou

Foi do cientista político Bruno Garschagen que recebi a sugestão que mudaria minha vida: “Por que você não aposta na prosa poética? Você leva jeito.”

Nesses dois anos de FAUSTO, quanta coisa mudou em mim. A primeira e mais importante: não existe mais distância entre como me sinto e como atuo no mundo.

FAUSTO é meu motivo. É também meu espelho. Meu lado sombra em versos que tanto faz como são recebidos. É liberdade de expressão, é exercício de diálogo, é eixo que me mantém em pé quando nada ao lado é capaz de me fazer crer.

Lembro-me de uma vez, na sala de aula na pós-graduação em Jornalismo Cultural na FAAP, quando um dos meus mais queridos professores, o jornalista João Gabriel de Lima, contou sobre os trabalhos da jornalista americana Lillian Ross, grande nome do jornalismo literário. FAUSTO ainda demoraria muito para nascer, mas ali, exatamente ali, caiu no solo que sou a semente de quem eu poderia ser para o mundo. Ali desejei ardentemente ser uma Lillian Ross. Ambicioso, eu sei.

É verdade, no entanto, que a FAUSTO é construída de percepções sutis: um som, um cheiro, uma imagem, uma intuição. É a motivação mais romântica em ação, a sinceridade.

Sempre me vi sendo arrebatada pela Beleza de tudo: dos gestos, das formas, das letras. Só nunca tive possibilidades financeiras. Sou exceção neste país triste. Sou formada em grandes instituições porque decidi que ninguém definiria meu destino a não ser eu mesma. Sou fora da curva porque soube pedir e soube aceitar. E soube, principalmente, levar a sério. É imperdoável, contudo, levar qualquer coisa a sério. É imperdoável reunir numa galeria tão impressionantes pensadores do Brasil e do mundo. Agora, se isso não é Fausto, não sei mais o que pode ser.

A conversa com Bruno Garschagen aconteceu um mês antes de eu publicar a primeira entrevista, que foi com Leandro Narloch. No decorrer daquele mês, que figura entre os momentos mais sombrios e tristes da minha vida, achei que não teria forças, ou mesmo vontade, de ir adiante. Alcançar o sucesso exige, antes, que se aprenda sobre amizade.

Contudo, jamais esquecerei que a Taty Aguiar passou horas e horas construindo um site para mim, assim como Fernanda La Salye. Que o Rafael Galdêncio o programou às pressas e de graça – ainda devo a cerveja, eu sei – e que à mesa de jantar, Alex Catharino falava sobre o meu futuro. Eu tinha acabado de conhecê-lo, naquela hora mesmo, e minha alma estava tão vazia que hoje quase não me lembro do que ouvi. Até hoje ele é um dos maiores entusiastas do meu trabalho.

É, nem todo grande projeto nasce de algo bom. Entretanto, e posso dizer com certeza, a raiva, a mágoa, a tristeza e a sensação de injustiça podem trabalhar muito bem e unidas.

Essa é minha forma de ver o mundo. Quase sempre cinza, quase sempre dias de chuva, quase sempre músicas de letras tristes. Por isso FAUSTO é o clássico melancólico que acolhe porque compreende como somos insuficientes.

Foi, ainda na FAAP, anos antes, que tive a chance de conhecer meu mestre, Luiz Felipe Pondé. Quem lê a FAUSTO há mais tempo, sabe. Costumo dizer que foi ele quem destampou o céu do meu mundo. Seja o que for eu que venha a conquistar ainda – e desejo que sejam coisas grandiosas – o nome dele sempre virá à frente.

Digo isso porque a FAUSTO nasceu no mesmo dia em que me inscrevi no mestrado. Ter uma revista e um mestrado ao mesmo tempo não foi nada fácil, mas posso dizer, seguramente, que vivi dois anos de dupla realização. Dupla porque logo logo, em semanas, terei encerrado o mestrado. Um não existiu sem o outro. E foi nas alamedas da PUC que as primeiras pessoas me abordaram por causa do que faço aqui, uma sensação indescritível. Dois grandes motivos para comemorar? Sem dúvida.

Meus nobres leitores dizem todos os dias o que preciso saber para continuar. São mensagens por e-mail, em privado ou declaradas nas redes sociais. São tão poderosas que não me dão chance de esmorecer. Descobrir que minha busca por sentido é a mesma de muitas pessoas é a motivação que faltava para eu ser definitivamente uma mulher realizada. Conheço o amor, a generosidade, a amizade e – caramba, nunca pensei que fosse dizer isso – a esperança.

São muitos os nomes para agradecer: desde os entrevistados e os convidados a escrever aos que estão sempre prontos para ajudar com algo. Não posso, porém, refletir sobre os últimos dois anos de minha vida sem essas pessoas: Carla Zatorre, Mariana Beluco, Marco Aurélio Cunha, Sidney Santos e Leonardo Gonçalves. Hoje, até tenho alguém que pensa mais na FAUSTO do que eu: Rodolfo Lutfi.

Para ter algo de verdadeiramente interessante para mostrar é preciso saber o que guardar. Foi com a FAUSTO que provei da sabedoria que só o silêncio traz sobre tudo aquilo que é muito caro. Mantenha diários, tome notas daquilo que toca, entregue-se apenas à literatura, mas seja sempre gentil com todos.

Por fim, o agradecimento dos agradecimentos, o que sempre vai me faltar palavras, desde quando tudo ruiu e se tornou pedacinhos impossíveis de serem juntados. É para você, Madely Ferrari, a quem devo dar o meu mais profundo obrigada.

 

 

Eliana de Castro Escrito por:

Fundadora da FAUSTO, é escritora, mestre em Ciência da Religião e autora do romance NANA.

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