Em algum momento você vai sentir vontade de colocar sua vida em uma mochila e partir. Motivado por uma desilusão ou por concluir que esta mesma vida anda sem sentido, uma viagem pode ser a saída, ainda mais quando uma “viagem interior” pode acontecer ao mesmo tempo. A verdade é que pode haver muitas razões para que alguém queira largar tudo o que representa segurança para se aventurar mundo afora.

Grande sucesso de vendas, o livro Livre – A jornada de uma mulher em busca do recomeço, escrito por Cheryl Strayed, narra sua própria experiência pela Pacific Crest Trail, rota que passa pelas fronteiras dos Estados Unidos, México e Canadá. Lançado em 2012, o livro foi traduzido para mais de 30 idiomas. Da livraria para o cinema, o cineasta canadense Jean-Marc Vallée – responsável pelo sucesso Clube de Compras Dallas – assina Livre, protagonizado por Reese Witherspoon.
Livre é um filme de personagem. Conta sobre os 1.800 km percorridos por Cheryl, em 1995, trajeto que durou três meses. Na busca pela própria essência, depois da perda irreparável da mãe e de um divórcio, Cheryl volta-se para si e o filme retrata essa introspecção.
O silêncio do filme pode ser perturbador para quem não está acostumado a se deixar em paz. Estratégico ou não, ele pode incomodar também porque revela poucas conclusões a cerca da vida ou desse encontro íntimo com a própria natureza. O filme não aprofunda as dores, não fala de saudade, de arrependimentos ou de sonhos. Tudo é implícito.
Uma sensação semelhante acontece quando se lê On The Road, de Jack Kerouac, e se assiste, depois, Na Estrada, de Walter Salles e Sam Riley. Nos livros há mais sentimentos sinuosos, descrições mais detalhadas das emoções descobertas. Diante da tela, o silêncio pode ser uma arma carregada virada para nós mesmos.
A fotografia de Livre valoriza os melhores trechos da trilha e capta um pouco de todos os fenômenos naturais como chuva, sol, neve, frio, calor, sol nascente e poente. De alguma forma, todos esses fenômenos invocam uma lembrança em Cheryl, ou em nós que assistimos contemplativos.
Muitas vezes só chegamos a grandes verdades sobre nós mesmos quando optamos pelo silêncio. Quando desistimos de encontrar respostas prontas, ao alcance, em qualquer gaveta. Creio que essas verdades são como a natureza do mundo: vastíssima e cheia de nuances. E talvez nem uma vida inteira seja suficiente para nos conhecermos completamente.
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