Literatura conservadora

Inquestionável a função formadora da literatura, essa que torna os dias frios sensuais e os quentes prenúncio de bons tempos.

É na vida de imaginação que encontramos primeiro as soluções da vida concreta. Nos livros estão os sonhos que queremos viver.

Por isso a escolha dos livros é determinante. Diga o que lê e terá dito quem é.

Sou escritora conservadora, apesar de que não censuro nenhuma outra, é o espaço mais livre que pode haver.

É curioso, como consta em O Dicionário do Conservadorismo, que a noção de literatura conservadora é pejorativa, “parece destoar da criatividade do tempo e do curso da história”.

Nada poderia ser mais mentira.

Se não entramos duas vezes no mesmo rio, como disse Heráclito, não é o mesmo aquele que começa e termina um livro, sobretudo os clássicos e os bons contemporâneos, selecionados a critérios rigorosos, mas há bons livros contemporâneos.

Depois de uma boa leitura, ainda que tudo permaneça igual fora de nós, acontece em nosso íntimo uma pequena transformação, erupção de sentimentos novos que saltam da escuridão — e, assim, temos mais uma coisa com o que lidar.

O dicionário é um capital para quem quiser ser muito bom no que faz, por isso o devoro. São 704 páginas, com mais de 200 verbetes, uma obra coordenada por Frédéric Rouvillois, Christopher Boutin e Olivier Dard. A tradução é de Luiz Paulo Rouanet.

Se sou escritora conservadora, teço discursos explícitos ou implícitos em favor de meus valores. Minha própria pessoa é determinante: escrevo para os que se respeitam.

Então, deixo conselhos: se o desejo é de paz, leia histórias de todos os tipos de guerra. Caso deseje amor, os livros são acerca de humildade.

Se busca ter mais amigos, leia sobre generosidade. Quer, como nunca antes, amor próprio? Os livros são sobre a força do silêncio.

Não leia sobre direitos, que a graça seja suficiente; nem sobre como prolongar a vida, basta o mal de cada dia.

Não leia sobre como salvar o mundo, ele permanecerá apesar de nós. Não leia sobre política se não puder se colocar no papel de todos em cena.

Esse é o segredo das boas decisões: largar-se nas palavras daqueles que se tornaram imortais.

Seja quem for, Proust, Hugo ou Zola, não leia romances para encontrar caminhos, os caminhos se revelarão naturalmente depois de tê-los lido. Não por mágica, mas porque conhecerá melhor a si mesmo.

Ocupe-se, assim, com as coisas do alto. A literatura é um dos poucos consensos entre os deuses.

Eliana de Castro Escrito por:

Fundadora da FAUSTO, é escritora, mestre em Ciência da Religião e autora do romance NANA.

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