Sou conservadora de verso e prosa, aprendi a escolher as palavras que me definem.
Tomo o assunto de ser ou não ser em razão do lançamento da É Realizações, a presúria O Dicionário do Conservadorismo.
O trabalho primoroso de 704 páginas, sob direção de Frédéric Rouvillois, Christopher Boutin e Olivier Dard, tem como tradutor Luiz Paulo Rouanet.
Mais do que um robusto monumento isolado, é o primeiro volume da tríade generosa para esses tempos de palavras violentadas e vazias de sentido: O Dicionário do Populismo e O Dicionário do Progressismo.
Os mais de 200 verbetes permitem compreender o que significa ser conservador enquanto postura — cética, mas elegante; melancólica, mas zelosa —, e enquanto orientação política, sobretudo ao que se refere às narrativas “desconstruídas”.
Não sou antiga, menos ainda antiquada; olho os indivíduos nos olhos. Não estou na retaguarda. Sou mulher de legítimas defesas.
Por isso e mais alguns traços insinuantes, não raro estranham quando me apresento como mulher conservadora, mulher dos clássicos, mulher de paixão pelas descobertas.
Sou conservadora porque sei o quanto custou estar no lugar para o qual nasci, e não há outro. Escrever sobre o que me fez fraga.
Tempo, a palavra mais conservadora!
Para chegar a me sentir bem em minha própria pele, significou, todos os dias, dar de ombros às modas, além de ser inteligente o suficiente para compreender por que as coisas são como são e, querendo eu coisinhas minhas, não poderia eu infringir a ordem que mantém a mínima ordem.
Sou conservadora, acima de tudo, porque amo o preciosismo.
Eu sei para onde vou e por que vou.
Sou conservadora à revelia da esquerda, mas distante da direita, sou mais profunda e propensa à cronista, tirando do dia a dia o alicerce de meu caráter. Então fazem parte os paradoxos e as nuances.
Sou livre, gentil, amorosa, desprendida de conceitos efêmeros para me comunicar. Desse dicionário, começo pelo verbete que mais me define: romantismo.
Minha área de pesquisa, meu berço, minha fonte de inspiração, em O Dicionário do Conservadorismo romantismo não é, como João Pereira Coutinho define conservadorismo em seu esclarecedor As Ideias Conservadoras, singular. Não é possível falar de conservadorismo, mas de conservadorismos.
“A história das relações entre o romantismo e o conservadorismo, ou mais precisamente, dos romantismos e dos conservadorismos, é a de um quiproquó e de uma reviravolta.”
O verbete se prende mais às revoluções, às questões políticas e às primeiras publicações literárias conservadoras lideradas por românticos. Entendemos o papel de Chateaubriand e dos irmãos Abel e Victor Hugo, entre outros.
“Hans-Christof Kraus diz, a propósito, que ao moderno “desencantamento”, que se exprime pela mecanização, pela racionalização, pela burocratização e pela fragmentação da existência, o romantismo opõe um retorno às tradições e aos valores antigos.”
Não há uma visão romântica conservadora do amor. Não caberia mesmo.
No entanto, porque é de minha verve, que, aliás, trato em meu primeiro romance, Nana, a “doença” da idealização tipicamente romântica é melhor que seja curada com trabalho de ourives. Sou conservadora com canseira de coração, mas sem fatalismos.
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