Inquestionável a função formadora da literatura, grande dama, essa que torna os dias frios sensuais e os quentes prenúncio de bons tempos.
É na vida de imaginação que encontramos primeiro as soluções da vida concreta. Nos livros estão os sonhos que queremos viver. Se entramos na literatura, podemos sair da caverna de Platão.
Por isso a escolha dos livros é determinante. Os livros é que formam os anos. Diga o que lê que terá dito quem é.
Se não entramos duas vezes no mesmo rio, como disse Heráclito, não é o mesmo aquele que começa e encerra um livro. Ainda que tudo permaneça igual fora, houve dentro uma pequena transformação, erupção de sentimentos novos que saltam da escuridão e, assim, passamos a ter mais uma coisa com o que lidar.
Se ignorância é uma benção, como diz o senso comum, conhecimento é redenção. Na prisão, o homem não tem mesmo com o que se preocupar. Já a liberdade é como o amor romântico: joga luz sobre as nossas incapacidades, mas pode também nos tornar muito melhores, se aprendermos a tempo a deixar de exigir.
Então, se o desejo é de paz, leia histórias de todos os tipos de guerra. Se o desejo é de amor, os livros são sobre humildade.
Se busca ter mais amigos, leia sobre generosidade. Se busca, como nunca antes, o amor próprio, os livros são sobre a força do silêncio.
Não leia sobre os seus direitos, que a graça seja suficiente; nem sobre como prolongar a vida, basta o mal de cada dia. Não leia sobre como salvar o mundo, ele permanecerá apesar de nós. Não leia sobre política se não puder se colocar no papel de todos em cena. Esse é o segredo das boas decisões: largar-se nas palavras daqueles que se tornaram imortais.
Seja quem for, Proust, Hugo ou Zola, não leia romances para encontrar caminhos; os caminhos se revelarão naturalmente depois de tê-los lido. Não por mágica, mas porque conhecerá melhor a si mesmo.
Ocupe-se, assim, com as coisas do alto. A literatura é um dos poucos consensos entre os deuses.
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