Alice, 50 anos, tem carreira bem-sucedida e família que a ama. O diagnóstico de um tipo raro de Alzheimer impacta a todos, principalmente por ser ela ainda tão jovem. Mas esta percepção, apesar de verdadeira, é rasa.
O horror mesmo é assistir alguém que ama tanto as palavras ir perdendo uma a uma tão brutalmente, e com elas as memórias… Afinal, estão nas palavras os significados de tudo o que registramos, ainda que sequer percebamos.
Dra. Alice Howland é uma respeitada intelectual, especialista em linguística, que também atua como professora na Universidade de Columbia. Dirigido por Alec Baldwin, quem também vive o marido de Alice, Para Sempre Alice é brilhantemente protagonizado por Julianne Moore.
Alice, então – assim como todos da família – começa a assistir a morte de sua mente. Rapidamente a intelectual vai esquecendo os significados das palavras, assim como datas importantes. Até seus filhos lhe escapam, aliás, uma das cenas mais duras. O filme, baseado no livro de Lisa Genova, que percorreu mais de 30 países, conta com Kristen Stewart, Kate Bosworth, Shane McRae, Hunter Parrish, Seth Gilliam, Stephen Kunken e Erin Drake.
É o drama de assistir alguém deixando de ser quem se é aos poucos. O drama de se ver deixando de ser quem se é aos poucos – muitíssimo pior.
Há cenas em Para Sempre Alice que o espectador pode se perguntar: “e se fosse comigo?” ou “e se fosse com a minha mãe ou minha mulher?” Alzheimer rouba a vida paulatinamente e diante dos olhos. Quem ampara sofre tanto quanto quem é obrigado a se desmanchar nas mãos do outro, um outro íntimo que logo vira um desconhecido. Para Alice, então, uma intelectual cuja vida foi construída sobre o alicerce do Conhecimento, o presente da vida é crueldade com uma pitada de ironia.
A trama fica inteira nas mãos de Julianne Moore. Mesmo com a mudança na rotina da família, é o seu olhar e o seu sofrimento que sustenta o sofrimento dos outros personagens. Kristen Stewart vive a filha que menos se dá bem com a família, mas sua personagem cresce com o progresso da doença e reserva momentos lindos de troca e afeto. Fora da trama, é bonito ver como Kristen Stewart não se intimida com o talento de Moore e juntas fazem uma dupla impecável. Alec Baldwin vive o marido que, mesmo amando muito a esposa, não consegue ir além. Fragilidade compreensível, que interpreta muito bem.
Para os que vão assistir Para Sempre Alice atentem ao momento em que Alice faz um discurso. O texto é tão sensível e belo que vale deixar cair sem pudor algumas lágrimas.
Um poema de Elizabeth Bishop:
Uma Arte
A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério.
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