Saudades dos cigarros que nunca fumarei, de Gustavo Nogy, é sem dúvida o melhor livro do ano!
Que eu li, evidentemente.
Sei das suspeitas que caem em quase todas as frases que dizem algo assim: “o melhor”, “o mais incrível”, “imperdível”, “sem juros*”.
Salvo, claro, por quem diz tais frases, que normalmente é o que garante que sejam sérias; mas se tenho credibilidade para bater o martelo e mandar para os autos minha sentença, bom, não cabe a mim dizer, mas se o caríssimo leitor aqui está, é ótimo sinal.

Então, vou usar as palavras que hoje não dizem nada para dizer tudo sobre a estreia de Nogy. O “diferencial” é que o livro é como aquela conversa de bar que você adora ter com aquele amigo que “manja muito”, só que muito melhor, confie em mim. Mas não precisa ignorar o amigo por causa disso. Aliás, o livro é excelente sugestão de presente, para que tenham ainda mais assuntos. A estreia de Nogy é verdadeiro elogio a happy hour que se preze.
Então, Saudades dos cigarros que nunca fumarei é esse encontro estupendo da boa leitura com o riso largo, desenfreado, até passível de transformá-lo em um idiota se estiver em um ambiente com desconhecidos, sisudos, sem senso de humor – ou incapacidade telepática para saber por que o leitor ri tanto.
Durante a leitura, terá a sensação de estar em um universo paralelo com Nogy, conversando trivialidades, essas de todo dia, da febre do Pokemon Go a dores de estômago por causa de… trivialidades. Ou, para os mais dramáticos, por causa da contingência, essa cruela.
Mas tem mais! Nogy é “incrível” e “inenarrável” porque diz o que pensa sem se preocupar se o que ele pensa é o que todos pensam – essa frase consta no livro e quis copiar porque me provocou uma “experiência única”.
Bom, o livro não é necessariamente “politicamente incorreto”, porque também essa expressão já não diz mais nada. Pode ser tanto a marca bilionária de Narloch como a minissaia que a mina usa no casual day da empresa, sob o slogan da moda: meu corpo, minhas minissaias. “Essa mina sou eu”, talvez cantasse Roberto Carlos se o amordaçassem exigindo que compusesse uma canção exaltando a mulher, afinal, é inadmissível que só os homens sejam prestigiados em hits das novelas.
Pois é. Tem tudo isso em Saudades dos cigarros que nunca fumarei: Roberto Carlos, feminismo, futebol, “dicas incríveis” de como criar crianças ou se comportar em festas infantis, os grandes escritores, os nem tão grandes, os clássicos que relemos mais do que lemos, racismo, terrorismo, cristianismo, islamismo e demais modismos, tudo de forma inteligente, divertida, necessária – e urgente. Os ensaios são curtos, fáceis de ler, perfeitos para o trajeto para qualquer lugar ou salas de espera – mas, prometa: nunca deixe de ler Guerra e Paz.
Se não bastam essas razões, é o melhor livro do ano também porque você não encontrará nenhum assunto clichê. Ou melhor, todos os assuntos são clichês, mas abordados “como você nunca leu antes”. O que diz na contracapa é a mais pura verdade: “o culto à espontaneidade”.
Mas vou mais além – sem nenhum compromisso de ser genial como o autor. Para mim, Saudades dos cigarros que nunca fumarei é antídoto a qualquer um que se leve muito a sério.
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