Tantos são os trocadilhos possíveis de se aplicar ao seu sobrenome: Salgado! Ele, o próprio tempero. Quem satisfaz o olhar ávido de imagens sensíveis. O sal da terra.
Aos 74 anos, Sebastião Salgado é a própria definição de sua terra, Aimoirés. A parte mais quente de Minas Gerais. O nosso olhar mais árido.
Tantas são também as possibilidades que o talento desse homem coloca diante de nós, os observadores. São magníficas as imagens que abrem diante de nossos olhos outros mundos.

A nós, que escrevemos, fica o privilégio de rascunhar sobre eles. E sobre ele.
A primeira grande escolha de Sebastião Salgado foi pelos números. Nascido em 8 de fevereiro de 1944, aos 19 anos foi para São Paulo cursar a faculdade de economia da USP.
Assim, seguiu até 1967 quando conheceu Lélia Deluiz Wanick, que logo se tornou sua esposa – como permanece até hoje, sendo uma figura tão importante em sua trajetória como o seu próprio talento.
Juntos, lutaram contra a ditadura militar. Sebastião e Leila foram amigos de Marighella. A carreira no Brasil, no entanto, não poderia seguir com sucesso com tamanha censura.
O casal, então, foi embora para Paris, em 1969. E Sebastião escreveu uma tese em ciências econômicas. Mais inverso impossível à veia artística que ainda não havia surgido, mas que não tardaria.
Aconteceu como secretário para a Organização Internacional do Café, em Londres. Salgado viajava. E na África realizou sua primeira sessão de fotos. Paixão visceral! E já em 1973, o mineiro se apresentava como fotojornalista.
Hoje, não há prêmio que ele não tenha recebido. Todos os renomados do mundo! E tendo passado por grandes agências mundiais como a Sygma, a Gamma e a Magnum, desde 1994 Salgado mantém a Amazonia Imagens. Ela que concentra sua obra e dirige sua carreira. Sempre sob o olhar meticuloso de Lélia.
É claro que seria impossível nomear as fotografias mais célebres de Sebastião Salgado. Mas tão interessante quanto são seus retratos como fotojornalista.
Sebastião Salgado cobriu os primeiros 100 dias de governo de Ronald Reagan e documentou a tentativa de assassinato de John Hinckley Jr. contra o então presidente dos Estados Unidos.
Esse caso foi bastante interessante também porque envolveu – indiretamente – a atriz Jodie Foster, por quem Hinckley era obcecado, ou mais precisamente pela personagem Iris, que Foster viveu no filme Taxi Driver, de Martin Scorsese.
Essa e tantas outras coberturas possibilitaram a Salgado a primeira grande quantia para o primeiro grande projeto pessoal: uma viagem à África.
Desde o começo, as grandes causas de Sebastião Salgado foram as sociais. No primeiro livro, Outras Américas, de 1986, retratou os pobres da América Latina. Então ele nunca mais parou.
Homem em Pânico, também de 1986, foi o registro de uma parceria com a ONG Médicos sem Fronteiras, pela qual cobriu a seca no norte da África. E a lista de causas seguem: o trabalho rural, o desalojamento em massa de pessoas, guerra, pobreza, reflorestamento, erradicação da poliomielite e por aí vai. Sempre em preto e branco. Do comovente para o chocante. Vice e versa.
Aos que foram fisgados por essas linhas, fica a indicação de Da Minha Terra à Terra, livro tão sensível quanto às imagens do fotógrafo, escrito por Isabelle Francq.
O relato mais profundo passa por de tudo, mas, principalmente, sobre os pensamentos e as emoções que moveram os passos de Sebastião Salgado até suas obras-primas. Tudo é de beleza ímpar. Não há palavras para sair do lugar comum.
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