Vício Inerente: roteiro inteligente e humor non sense

Qual é a condição daquilo que é inerente?

É aquela que por natureza é inseparável de alguma coisa.

Um vício inerente é, portanto, aquele que nasce com você e que nunca será vencido.

Vício Inerente, filme de Paul Thomas Anderson, traz essa temática numa trama inteligente que contempla três gêneros: policial, comédia e drama. A produção é baseada no livro homônimo do escritor americano Thomas Pynchon.

Estrelado por Joaquin Phoenix, o personagem principal é o detetive hippie Doc Sportello, que recebe um pedido inusitado de sua ex-namorada, Shasta, quem ainda ama.

Ela quer salvar a pele de seu atual amante, Michael Z. Wolfmann, um milionário casado que a sustenta e que por um motivo misterioso está sendo perseguido.

Joaquin Phoenix em Vício Inerente.

Inerente não se vence.

Doc Sportello atende ao pedido de Shasta.

Shasta é vivida por Katherine Waterston. Seu amante Wolfmann é o ator Eric Roberts.

A trama instigante acontece na Los Angeles dos anos 1970, auge do movimento hippie. Estão ainda no elenco Josh Brolin e Owen Wilson, dando vida a personagens envolventes e engraçados. Passam brevemente em cenas ótimas Martin Short, Benicio Del Toro, Jena Malone, Maya Rudolph e Michael K. Williams.

O longa é mesmo bastante engraçado. Os acontecimentos pitorescos combinam com a personalidade etérea de Doc. Tudo parece até saído de sua mente estimulada pelas drogas.

O filme foi construído tão meticulosamente que os quadros fantásticos, realçados pelas cores, e realçados também pelo tom non sense, casam perfeitamente com a inteligência do roteiro.

Junto com Phoenix brilha Josh Brolin, o policial renomado Pé Grande.

Reese Witherspoon participa como um romance de Doc. Ela encarna uma mulher séria e sistemática, opondo-se deliciosamente ao Doc tranquilão.

Esses contrastes enriqueceram o filme. O risco de ficar tudo sem sentido é paulatinamente superado no desenrolar do caso.

A versatilidade de Joaquin Phoenix surpreende em muito – e mais uma vez. O porto-riquenho estrela de Johnny & June, de 2005; e Ela, de 2013, é sem dúvida um dos melhores atores da atualidade.

Se antes de assistir à produção de Anderson o espectador souber que Robert Downey Jr. foi cogitado para dar vida a Doc, talvez se pegue em algumas cenas de Phoenix imaginando Downey perfeitamente ali, tal é a veia cômica.

É então um ponto alto de Vício Inerente tanto foco em Doc.

O anti-herói, imperfeito, cheio de vícios, mas corajoso em sua missão, não cede às pressões de ninguém e segue sua vida sem se trair.

A produção de Paul Thomas Anderson aposta mais na teia rebuscada dos fatos, o que exige atenção e disposição para não perder o fio da história.

A duração de 2h30 pode ser um problema aos desavisados, como em qualquer filme que exija mais atenção.

Vício Inerente é o tipo de filme que, aparentemente simples, diz muito.

 

 

Eliana de Castro Escrito por:

Fundadora da FAUSTO, é escritora, mestre em Ciência da Religião e autora do romance NANA.

Os Comentários estão Encerrados.