Aquele dotado de sensibilidade, que capta as sutilezas do cotidiano e interpreta com benevolência os mistérios da vida – dos mais frívolos aos mais profundos, que envolvem vida e morte – não pode nunca, em hipótese alguma, deixar de ler Viver não dói, da jornalista mineira Leila Ferreira.
O livro não é de autoajuda, vale de imediato avisar. Como um sopro leve, porém imensamente perfumado, a publicação é composta por crônicas que tratam das coisas mais simples da vida e, invariavelmente, as mais complexas: o que é a felicidade, o verdadeiro prazer sexual, o que realmente importa, o ritmo acelerado que deixa tanta coisa valiosa de lado, as gentilezas, a educação pura e essencial, as relações amorosas, os padrões de comportamento ainda exigidos mas que não fazem mais o menor sentido, as dietas, como se vive mais a vida virtual do que a vida real e, por fim, o envelhecer, a solidão e a morte.

Viver não dói é singelo, uma graciosa celebração dos pequenos valores da vida – e tão imprescindíveis! –, além de uma reflexão sobre esse tempo no qual não há pausa para perceber, sentir e refletir.
Um presente para quem sabe se assumir humano, com todas as suas dores, sonhos e medos, Viver não dói é para ler antes de dormir, quando acordar, na hora do almoço ou em qualquer outro momento de recolhimento.
Aviso: não se adiante em pensar: “Infelizmente, não tenho um tempo só para mim.” Porque por mais tentador que seja pensar que tempo é dinheiro – e dinheiro é consumo e consumo é felicidade – verdade que habita o inconsciente da maior parte das pessoas, o tempo ainda é o bem mais gratuito e democrático que existe.
Soa meio autoajuda, percebo, mas imbuído em histórias cotidianas muitíssimo bem escritas, como é o caso de Viver não dói, esse tempo dedicado à leitura chama à consciência aquilo que talvez tenha se perdido.
“O tecido da felicidade é feito de fios quase invisíveis. Quando deixamos de procurar aquela felicidade que promete se deixar avistar a quilômetros de distância e apuramos o olhar para enxergar a felicidade possível, que não faz alarde e vira e mexe se mistura à tristeza, aí, sim, a gente é feliz e sabe – ou pelo menos deveria saber”, reflete Leila no texto “Ser feliz (e saber)”.
Terceiro livro da jornalista mineira, Viver não dói guarda 48 lindas crônicas. Leila mostra sua experiência como entrevistadora sensível, que acumula em sua trajetória mais de mil entrevistas.
Formada em Letras e em Jornalismo, com mestrado em Comunicação pela Universidade de Londres, Leila Ferreira foi repórter da Rede Globo Minas e durante 10 anos apresentou o programa “Leila Entrevista”, na Rede Minas e TV Alterosa.
Mais do que saber fazer a pergunta certa, a maior habilidade de Leila, ampliada em Viver não dói, é não ter medo de se mostrar, de se abrir, de falar sobre suas fragilidades e, dominando tão bem as palavras, tornar todos os grandes questionamentos da vida uma conversa leve, acompanhada de um simples café passado na hora e um bolo caseiro fresquinho.
Se ao folhear o livro em alguma livraria – ou quando ler as primeiras crônicas – pensar: “E isso, por acaso, é genial?”, acredite: os textos partem de um ponto tão, mas tão cotidiano, que talvez não prendam, logo de cara, mas continue. Terá dado um presente a si mesmo.
Esse, aliás, é um dos grandes méritos do livro. Como cresce em profundidade e sensibilidade à medida que se avança na leitura. Ao fim, algumas lágrimas poderão se formar, e mesmo que não caiam, refletirão o quanto todos nós sentimos tão profundamente as menores dores da existência. Embora nem por isso a felicidade deixe de estar ao alcance. Basta apurar o olhar.
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