“Explicações unem fatos”.
Um conceito caro a Nassim Nicholas Taleb é o da falácia narrativa: a propensão que nós, seres humanos, temos de forçar uma ligação lógica em uma sequência de fatos.
Em outras palavras: queremos entender o que ocorreu. E, para isso, concatenamos acontecimentos e criamos um fio narrativo que os liga, o que facilita a interpretação do fato.
“Essa propensão pode dar errado quando aumenta nossa impressão de entendimento”.
O autor libanês ressalta que a narratividade vem de uma necessidade biológica intrínseca de condensar a dimensionalidade. “A informação deseja ser reduzida”.
A dimensionalidade da informação está ligada à sua aleatoriedade: quanto mais aleatória, maior a dimensão, o que a deixa mais complicada de ser resumida.
Porém, quanto mais resumida a informação for, mais ordem será atribuída e, dessa forma, a aleatoriedade será menor.
“A mesma condição que nos faz simplificar nos força a pensar que o mundo é menos aleatório do que realmente é”.
No que diz respeito à História, caímos no poço da distorção retrospectiva: a ciência que estuda a ação humana ao longo do tempo soa mais nítida e ordenada nos livros do que empiricamente.
Como podemos observar, a falácia narrativa é inevitável, visto que estamos predispostos a reduzir as informações devido às nossas limitações inerentes.
E, acima de tudo, é um exercício de humildade reconhecê-la. Na maior parte das vezes, não sabemos aquilo que achamos que sabemos — ou nosso parco conhecimento é limitado à ordem da concatenação dos fatos que nos foi apresentada.
O conceito da falácia narrativa é abordado no livro A Lógica do Cisne Negro – O Impacto do Altamente Improvável, lançado no ano de 2007.
O cisne negro, explica Taleb, é algo que não conseguimos prever — está completamente fora das nossas expectativas — e o seu impacto altera os nossos conceitos e abala as nossas crenças.
No geral, aquilo que conhecemos torna-se o foco na tomada de decisões: atentamo-nos ao universo conhecido e preterimos o que desconhecemos.
Todavia, basta um acontecimento para desmoronar tudo aquilo que, até então, considerávamos como certo.
Por exemplo: até 1697, acreditava-se que todos os cisnes eram brancos. Foi suficiente deparar-se com apenas um cisne negro, na Austrália, para toda a crença vir abaixo.
Não temos conhecimento prévio para lidarmos com os cisnes negros: eles estão no campo do desconhecido. Mas, após sua ocorrência, usamos da falácia narrativa para explicá-los.
Dessa forma, além de condicionarmos o nosso entendimento, tentamos nos proteger do caos da experiência humana.
Para além de macro cenários, usamos a falácia narrativa no dia a dia, justificando nossos sucessos e fracassos.
Necessitamos de uma explicação para a glória ou a derrota, seja no ambiente de trabalho, em casa ou nas demais relações interpessoais.
Afinal de contas, o mundo é bem mais aleatório e complexo do que queremos admitir.
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