Restaurante Contos de Réis: guardião das riquezas que permanecerão

A cidade mineira de Ouro Preto ainda guarda seus tesouros, que agora são mais fáceis e deliciosos de encontrar.

É pelas ruas sinuosas de pedras centenárias que vislumbramos recônditos de riquezas gastronômicas dignas de um eldorado.

Em um casarão do século XVIII no Centro Histórico da cidade, na rua Camilo de Brito, somos transportados para a antiga Vila Rica. A apenas 300 metros da Praça Tiradentes, lá encontramos as preciosidades das comidas típicas das Minas Gerais — alimentos com ingredientes que guardam os sabores de nossa formação.

Trata-se do Restaurante Contos de Réis, reduto gastronômico ouro-pretano, situado na parte térrea da casa, construída por um português por volta de 1772.  A parte de cima é ocupada pela Pousada Solar do Carmo.

Nessa construção — outrora ocupada por donos de posses e escravos —, preservação é a palavra que rege todos os aspectos, desde o esmero das paredes de pedras às relíquias que ficam expostas aos frequentadores.

Da arquitetura à comida, tudo nos remete a algo longínquo, remoto no tempo, mas que podemos ter ao nosso alcance ao saborear os pratos oferecidos, abrigados em um ambiente preservado, que guarda histórias que já conhecemos, além de outras que nunca foram contadas.

A cidade que consegue parar o tempo nos ensina que certas coisas não devem se modificar com a passagem dos dias, dos meses e dos anos. Os turistas que a visitam diariamente querem ver as paisagens imutáveis sob diversas perspectivas. E todo o cuidado é pouco para preservá-las.

Não pertenceremos mais a esse plano, mas as construções históricas de Ouro Preto continuarão a encantar as próximas gerações. Criações humanas inspiradas por Deus e vigiadas pelo Pico do Itacolomi, o Olho de Hórus dessas terras.

O mesmo se aplica para a tradição culinária mineira. A antiga Capitania de Minas Gerais, formada por diversos povos, compôs uma gastronomia reconhecida até mesmo pelas divindades aqui cultuadas. O ouro que sai das panelas mineiras enriquece o paladar e enche-nos de afeto, porque afeição também passa pela mesa.

Guardião das riquezas que permanecerão, o Restaurante Contos de Réis, através de seu cardápio tradicional, mas com toque de modernidade, nos oferta a história do estado de Minas Gerais em forma de comida — ou melhor, de farta comida —, fazendo jus à tradição mineira. Não faltam sobremesas com doce de leite e jabuticaba.

Ao final, ouvimos a clássica frase: “quer um cafezin”?

Visitar o Restaurante Contos de Réis não se limita apenas ao paladar. Comer uma boa refeição é algo maravilhoso, mas se alimentar com elementos simbólicos dessa terra de gemas preciosas torna a experiência mais rica — riqueza de detalhes, sutilezas e eflúvios.

Tomo emprestado o conceito de “condicionamento estético”, usado pelo filósofo inglês Roger Scruton, para dizer que as combinações de comidas, bebidas, ambientes e objetos tornam o Restaurante Contos de Réis um idílio para os frequentadores, nativos ou forasteiros.

O amálgama de culturas, sobretudo a portuguesa, africana e indígena, nos legou uma junção de sabores que, além de nos alimentar, contam nossa história.

Um dos pratos servidos no Restaurante Contos de Réis, o feijão tropeiro, tem origem no período colonial: farinha, feijão, ovos e carne davam a praticidade e o nutrimento necessário para as tropas que transportavam mercadorias pelos caminhos inóspitos de Pindorama.

As personagens shakespearianas Romeu e Julieta transfiguraram-se nas cozinhas mineiras em uma iguaria deliciosa formada pela goiabada e o queijo minas. Nem mesmo a tragédia do dramaturgo inglês passou incólume pelos fogões das Minas Gerais. Impossível resistir ao sorvete de queijo canastra com calda quente de goiabada.

Da mãe África veio o quiabo, assim como o angu. Em Minas, ambos os ingredientes africanos se juntam ao frango, formando um dos pratos mineiros mais conhecidos: o frango com quiabo.

No cardápio, entre as entradas, você encontra saborosos pastéis de angu — e com vários recheios: frango com Catupiry, umbigo de banana e rabada com queijo. Vale a pena experimentar a polenta frita com queijo degustando uma deliciosa cerveja Ouropretana.

Destacamos também o detalhe que faz toda a diferença: a pimenta que fica à disposição na mesa, cujo alho proporciona um sabor verdadeiramente celestial. Algumas gotinhas no bolinho de bacalhau e a sensação terá sido de plenitude. Ou melhor, de unicidade.

Não dá para falar de culinária mineira sem mencionar a tradicionalíssima canjiquinha. No Contos de Réis, a canjiquinha de costelinha, acompanhada por arroz e couve, é uma excelente sugestão para os dias de temperatura amena.

Para os que não se preocupam com o pecado da gula, sugerimos tudo isso e mais um pouco: chapa de picanha e tutu.

Esses são apenas alguns dos sabores que podem ser encontrados no Restaurante Contos de Réis, um dos endereços indispensáveis para uma viagem de significado. Afinal, os encantamentos de Ouro Preto estão nas igrejas, nos museus e na arquitetura, mas não podemos deixar a gastronomia de fora das atrações.

A propósito, o estabelecimento também é uma charmosa opção para dias de comemoração. A atmosfera romântica que paira à noite, à luz âmbar, inspira os amores que buscam passar pela prova do tempo.

Não sem razão, o espaço recebe noivos e convidados para celebrações de noivado e casamento. Que seja infinito como suas pilastras. O poetinha Vinicius de Moraes pensaria diferente se fosse mineiro?

Os brindes podem ser feitos com sucos naturais, sodas, drinks diversos e vinho. A carta de bebidas também não decepciona.

Não menos importante nessa experiência gastronômica é o atendimento. Todos são de uma simpatia ímpar, que nos deixam ainda mais à vontade. O cuidado com o visitante é do boa-noite ao até breve.

Ao visitar a cidade, torne sua experiência mais saborosa no Restaurante Contos de Réis. Suas preces serão atendidas.
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Com colaboração de Eliana de Castro.

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Túlio França Escrito por: