Há figuras que dispensam apresentações, pois já fazem parte do imaginário de um povo. Um de nossos casos é Dercy Gonçalves.
Dolores Gonçalves Costa nos deixou em 2008, mas o legado de Dercy permanecerá para sempre, sobretudo se depender de artistas do calibre de Grace Gianoukas.
Ela mesma. A pequena mais gigante do nosso teatro, de um carisma ímpar. Em cartaz com Nasci pra ser Dercy, no Tetro Uol, em São Paulo, Gianoukas ergueu um monumento artístico para a personalidade desbocada, tão amada em tempos que não existem mais.
Via metalinguagem, o espetáculo critica a imagem caricatural de Dercy Gonçalves, de uma velha que só falava palavrões. Sim, Dercy também era essa mulher que falava palavrões, mas havia outras facetas muitíssimo mais interessantes.
No espetáculo, Grace Gianoukas interpreta Vera Finarelli, uma atriz que vai fazer um teste para o papel principal numa cinebiografia de Dercy Gonçalves, mas se decepciona com o roteiro cheio de clichês e estereótipos.
Indignada, a atriz mostra quem realmente foi a verdadeira Dercy: uma atriz de vanguarda, uma mulher muitíssimo à frente de seu tempo e que só desejava levar o riso aos que precisavam de um alívio — para a existência.
A vida nunca foi fácil para ninguém. Nem para Dolores.
Da pequena Santa Maria Madalena, interior do estado do Rio de Janeiro, a menina excêntrica já impactava a todos da cidadezinha com sua personalidade extravagante.
Incompreendida, Dercy cresceu sob o epíteto de “puta”, mesmo sendo avessa ao sexo desde tenra idade, curiosidade que toma os espectadores durante a montagem, levando-os à gargalhada.
Grace Gianoukas nos mostra, através de sua interpretação vivaz e cativante, o começo da carreira de Dercy como artista: começando pela cantora de rádio e passando pelo teatro de revista.
Ao contrário do estilo pomposo da época, que importava muitas peças de autores renomados, Dercy fazia teatro para o povo, com a linguagem e referências do povo. Seu legado como atriz influenciou diversas gerações e revolucionou a dramaturgia brasileira.
Uma das provas é Miguel Falabella. Que não sem propósito participa numa narração em off.
O texto e a direção de Nasci pra ser Dercy é de Kiko Rieser.
Os aplausos do público ao final da peça dizem tudo. Ela atende com maestria e muita sensibilidade à proposta de ser um resgate histórico, bem como uma homenagem a uma das figuras mais icônicas das artes cênicas do Brasil.
Para muito além da caricatura que foi sendo desenhada ao longo dos anos, Dercy Gonçalves foi uma artista destemida, autêntica e polivalente.
***
Acompanhe as novidades da FAUSTO pelo Instagram!
Conheça também meu primeiro romance, NANA, um elegantíssimo convite ao autoconhecimento e à autorreflexão.
Disponível na Amazon!