Leonardo Gonçalves fala sobre a gravação do seu 1º DVD

Leonardo Gonçalves grava o primeiro DVD de sua carreira no dia 11 de Junho, no Teatro Bradesco, em São Paulo. Intitulado Princípio, o show contará com o repertório do último álbum princípio e fim, além de canções consagradas dos três primeiros discos.

Até aqui, ok. É o anúncio de qualquer outro evento musical. A razão do destaque, contudo, são os lotes de ingressos esgotados em tão pouco tempo. O primeiro foi em 12 horas, o segundo em 3 horas e o terceiro em 1 hora. Tão certo quanto o talento musical e performático de Leonardo Gonçalves é seu público que cresce vertiginosamente, saindo do segmento que o consagrou: o religioso.

Lançado em abril de 2012, princípio e fim permaneceu por 24 horas em 1º lugar no iTunes, a frente de artistas como Adele e Roberto Carlos. O disco conta com a participação das cordas da Orquestra Filarmônica de Praga e Orquestra Sinfônica da Republica Tcheca.

Em outros países, é comum artistas “pop” gravarem discos religiosos e muitos deles sabemos ter nascido em famílias cristãs como Whitney Houston, Katy Perry, Elvis Presley, os integrantes do U2, entre tantos outros. No Brasil, entretanto, tudo é muito segregado. Pertencer aos dois universos pode ser definido como “servir a dois senhores”. Não é esse o caso do cantor. Mencionar essa característica culturalmente brasileira é apenas uma maneira de tentar desclassificar o gênero musical como um critério para o disco ser ouvido ou não.

O fenômeno fala com exclusividade sobre cultura, música religiosa no Brasil e a gravação do DVD. Confira!

Leonardo Gonçalves
Leonardo Gonçalves. Foto: Lucas Motta.

FAUSTO – É claro que os vários estilos musicais existentes – pop, rock, jazz – estão aí para atender os também variados tipos de gostos, não sendo ninguém culpado por gostar mais de jazz e não de rock, e por aí vai… Contudo, por que a música religiosa causa ainda tanta resistência quando se trata de ganhar público ou de dar o título de “artista” ao artista?
Leonardo Gonçalves: Primeiramente, isso tem a ver com o fato de os próprios artistas cristãos não gostarem de se denominar “artistas”, o que ocorre frequentemente pela compreensão errônea do termo. Muitas vezes a palavra “artista” é sinônimo de “celebridade” ou de “estrelinha” – conceitos rejeitados pela maioria dos que se dizem cristãos – sendo que “artista” nada mais é do que alguém que faz “arte”. Creio que o maior artista do universo é o Criador; e quando me posiciono como “artista”, mesmo em um ambiente em que esta palavra ainda cause constrangimento, o faço baseado nos mesmos princípios que me levam a considerar D-S o artista-mor: buscar através da criatividade, da inovação e da beleza expressar o Amor. Além deste preconceito “interno” à palavra, há, também, ainda – embora cada vez menos – um preconceito de quem não é do “segmento”, se assim o podemos considerar, em relação a tudo o que é música cristã ou “evangélica”. Isto talvez seja fruto de, por muito tempo, grande parte da música dita “evangélica” falar uma linguagem e ter um conteúdo considerado não relevante ao público em geral. No entanto, tanto a recepção do público está maior, como a postura dos próprios artistas cristãos está mudando.

Como protagonista desse evento, por tantos anos de carreira e trabalho árduo, qual é a sensação de estar prestes a se apresentar em um teatro como o Teatro Bradesco com ingressos esgotados e em tão pouco tempo?
Sem sombra de dúvidas o Teatro Bradesco é a realização de um sonho. Poder oferecer ao público que me acompanha há mais de uma década um evento com o conforto e a qualidade que a casa oferece me alegra muito. Para ser sincero, tive muitas dúvidas se o público ia mesmo corresponder, se conseguiríamos encher uma sessão! A grande surpresa é que hoje teremos gravação nos dias 10 e 11. Isso eu realmente não esperava.

O que uma pessoa, que nunca ouviu música religiosa, pode esperar do show?
Estamos preparando um evento em que o conteúdo – e não a produção – seja o principal. Quero colocar a música e as mensagens nelas contidas em primeiro plano. Quem gosta de músicas, de maneira geral, vai ter o que apreciar, ao mesmo tempo em que a programação será muito mais do que uma mera reunião de canções. Não é muito fácil de explicar… Talvez só assistindo, mesmo. [Ri]

Acredita que a música é uma linguagem que vai além de princípios e fins? Valores e finalidades.
Ao mesmo tempo em que defendo que você pode colocar qualquer conteúdo em qualquer formato, creio que forma e conteúdo, no caso ideal, se complementam, se entrelaçam e se fortalecem. Dizer com a música, com o arranjo, com a produção e com a emoção da interpretação a mesma coisa que a letra está dizendo é algo muito poderoso. Acredito que arte sempre é ou deve ser uma contestação do status quo e que esta contestação nos leve à auto-reflexão e, no caso ideal, à mudança. São muitos os casos na história em que através da arte ideias e ideais foram popularizados a ponto de provocarem mudanças sociais. E não existe mudança social mais radical do que você pensar e agir pelo outro, pela comunidade, pela sociedade ao invés de fazer apenas o que é melhor para você, em detrimento do que é bom para o coletivo.

O que você gosta de ouvir e quais suas principais influências?
Você é o que você ouve. Você é aquilo de que se alimenta. Anteriormente, falei a respeito de conteúdo, mas acho importante ressaltar que, numa sociedade como a nossa, apenas a expressão da beleza e da arte já é algo poderosíssimo. Já é uma declaração. Creio que todos os seres humanos – estejam eles cientes disto ou não, independentemente de crerem assim ou não ou sequer professarem uma orientação religiosa – carregam em si a imagem e semelhança do D-S Criador. Não acho incomum e nem surpreendente que mesmo artistas que não creem em D-S acabem por, através de sua arte, representar parcialmente – da mesma maneira que o mais religioso dos seres humanos representa apenas parcialmente – esta centelha criadora original. Então, ouço de tudo. Literalmente de tudo, com pouquíssimas exceções de gênero musical.

 

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Eliana de Castro Escrito por:

Fundadora da FAUSTO, é escritora, mestre em Ciência da Religião e autora do romance NANA.