Como manter o amor após um certo tempo de relacionamento? Como continuar amando o outro após conhecer os seus demônios?
Foram essas as perguntas que fiz a mim mesmo no Teatro Uol ao assistir à peça Finlândia, dirigida por Pedro Granato e protagonizada por Jiddu Pinheiro e Paula Cohen — que dividem a vida e os palcos.
O cenário: um quarto de hotel na fria Helsinque. As personagens: um casal em crise conjugal. Jiddu dirige quatro mil quilômetros de Madrid à capital finlandesa para levar sua esposa — que estava a trabalho — e sua filha de volta para casa.
E toda a roupa suja do casal é lavada naquele quarto de hotel.
As paredes são testemunhas da troca de farpas, do ressentimento, da mágoa mútua de duas pessoas cujo relacionamento está segurado por um fio: a filha.
O texto do francês Pascal Rambert é montado e adaptado em diversos países justamente pela sua universalidade: a grama do vizinho não é mais verde que a nossa — e é bom que as ervas daninhas sejam aparadas o quanto antes.
Os impropérios trocados entre ambos revela o acúmulo que chega ao cume e transborda: os muros levantados ao longo dos anos se desmorona.
E o desmoronamento revela aquilo que eles não queriam que viesse à tona: toda a fragilidade escondida por trás de anos e anos sob uma máscara que os ocultava de si mesmos.
A cenografia e desenho de luz, assinada por Marisa Bentivegna, merece destaque. Os tons brancos, do tapete à cama, revela-nos o frio — tanto o frio da Finlândia quanto o que permeia a relação das personagens.
A exacerbação da crise não impede o casal de transar, o que me fez lembrar de Arnaldo Jabor: “Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele”.
Já o amor, ainda de acordo com Jabor, sonha com uma grande redenção.
Redenção.
Ninguém salva ninguém, mas sempre buscamos no outro a salvação, ou, pelo menos, um apaziguamento daquilo que nos atormenta.
O que não dá é um ser o tormento do outro.
Talvez a relação entre casais nunca foi tão complexa quanto nos dias de hoje. O mundo muda numa velocidade estonteante e os papéis desempenhados por cada um não são mais os mesmos de outrora.
E qual é o lugar do amor no meio disso tudo?
Volto a recorrer ao Jabor: “O amor vive da impossibilidade sempre deslizante para a frente”.
O amor, esse indômito…
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