Leandro Narloch: “Cansei de afirmação polêmica. Cansei de discutir pessoas”

No site de Veja, Leandro Narloch é o caçador de mitos. Em seus guias, o politicamente incorreto. Frente a frente, contudo, quem menos se espera encontrar é um rapaz um tanto tímido ou com uma capacidade, digamos, fácil de enrubescer. Natural de Curitiba, Paraná, o jornalista de 37 anos é o criador de uma das séries mais bem-sucedidas do mercado editorial brasileiro e autor do título inaugural, o best-seller “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”. A cada nova publicação em seu blog, causa furor nas redes sociais, mas diz que não são as polêmicas que o motivam e sim as grandes teorias que explicam o mundo. Leandro Narloch foi também editor das revistas Aventuras na História e Superinteressante. Para a Fausto, com exclusividade, o jornalista fala sobre os mitos que o irritam, o ambiente intelectual de hoje e sobre estar bastante cansado de polêmicas. Mas será que sua natureza inquieta permitirá que ele saia do debate público? Confira a seguir!

Leandro Narloch, jornalista

Fausto – Qual é a diferença entre o politicamente incorreto e o que deseja apenas “se aparecer”?
Leandro Narloch: Muita gente confunde. Existe o ato de simplesmente ser mal educado e o outro de exercer a liberdade de expressar uma verdade inconveniente. Quando falamos de gênero e inteligência, por exemplo. Pesquisas mostram que homens são mais e menos inteligentes que as mulheres. As mulheres estão mais na média e os homens são mais dispersos, ou para mais ou para menos. Para muitas feministas, só tocar nesse assunto já provoca fúria. Se não reconheço um motivo para essa fúria, não há razão para eu me censurar.

Você já se sente uma pessoa odiada?
Sinto, mas hoje já não sei se gosto disso. É um pouco infantil ficar na guerra personalista, em que as pessoas improvisam os argumentos mais tresloucados para defender suas pessoas preferidas. Gosto muito de comparar ideias com ursinhos de pelúcia. Se alguém falar que seu ursinho de pelúcia está velho e encardido, você o abraça e se apega ainda mais a ele. Também é assim quando ameaçamos convicções políticas dos outros. É infrutífero ficar tentando convencer os outros, por isso cansei de panfleto, de afirmação polêmica. Cansei de discutir pessoas. Tem muito articulista e blogueiro defendendo o que suas pessoas preferidas fazem, mas execrando as adversárias pelo menor errinho. Isso é bobo, é infantil. Quero discutir ideias, as grandes teorias que explicam o mundo.

Já publicou algo e se arrependeu?
Assim que a Dilma ganhou as eleições em 2010, escrevi um texto chamado “Sim, eu tenho preconceito”. Claro que não é era sobre preconceito racial, nada disso. Eu disse que tinha preconceito com quem vota errado. Não tem nada de preconceito contra nordestino. Por que me arrependo? Porque perdi metade do público. Entrei nessa fogueira política e nesse chorume da internet, que não faz bem. E além de tudo o texto defendia o Serra, que é quase tão esquerdista quanto a Dilma.

Qual mito mais o irrita?
Estou cada vez mais irritado com as feministas. Com a incapacidade das feministas de reconhecer que existe uma natureza humana. É claro que as mulheres têm tendência a um comportamento e os homens, a outro. Isso não significa que os homens são melhores, que as mulheres têm que ficar na cozinha cuidando dos filhos, nada disso, mas às vezes explica porque o mundo é exatamente como é.

As feministas têm problemas com as escolhas. As escolhas que a mulher real faz. Esses dias tivemos o caso da mulher bela, recatada e do lar. E qual é o problema ser bela, recatada e do lar? As feministas não devem diminuir as escolhas das mulheres. Se algumas delas querem ser belas, recatadas e do lar, é direito delas. Como o é ser solteira e trabalhar em uma grande empresa. É obrigatoriamente melhor ser CEO de uma empresa que dona de casa? Não sei, depende da escolha da mulher. Às vezes acho meio bobo, meio terceiro-mundista, essa obsessão das mulheres em serem reconhecidas pelo salário e pelo cargo na firma.

O feminismo é uma nova religião, é uma lente ideológica. Esse conceito de lente é muito bom. A partir do momento que você coloca esses óculos do feminismo, você começa a olhar tudo como opressão.

Outra coisa que me irrita é enxergar tudo como relação de poder. Se o homem decide dedicar a vida para servir à mulher, à família, aos filhos, ele não está se humilhando. Da mesma forma a mulher. Não é uma disputa. Esse costume de enxergar tudo como uma relação de poder torna a realidade muito mais feia.

O que acha do ambiente intelectual de hoje?
Parece que muitos intelectuais têm como tarefa tornar o mundo mais feio… Ele se esforça para tornar a realidade mais feia. Por exemplo, o assunto pobreza e desigualdade. Nunca vivemos em um mundo tão próspero. Os problemas que temos hoje são de abundância. Temos comida demais, carros demais, opções na vida demais. Pela primeira vez na história, menos de 10% da população mundial é pobre. Reduzimos mais a pobreza nos últimos 50 anos do que em 500 anos. Isso é lindo. Deveríamos comemorar. O que o intelectual faz? Fecha os olhos para tudo isso e se prende a uma estatística da desigualdade e fala que estamos mal, que estamos em risco. Ele se esforça para convencer a sociedade de que estamos piores, caminhando para o abismo.

Esse intelectual de esquerda só surgiu por causa do capitalismo. Há 300 anos, 80% das pessoas trabalhavam produzindo comida. Hoje, 3% trabalham produzindo comida. Há mecanização, a prosperidade da revolução industrial liberou as pessoas para trabalhos criativos. O Gregório Duvivier, há 300 anos, estaria capinando com uma enxada. Hoje, ele está livre. O aumento da produtividade o libertou. Ele tem tempo para escrever, para pensar. E o que ele faz? Ele se revolta contra o próprio sistema que o tornou possível.

Reconhece Lula como um ícone?
Sim, claro. Estou impressionado como a queda do PT está acontecendo de maneira “fácil”, uma vez que o partido formou a cabeça de muita gente. O PT impôs todas as questões relevantes dos últimos anos. É um fato grandioso o partido cair. Do final dos anos 1980 aos anos 2000, vivemos a ilusão dos redentores. Do herói popular que se revoltaria contra as elites e salvaria o país. Vimos isso na Bolívia, na África do Sul, no Brasil. Agora, parece que o povo está de ressaca com esses redentores. Na Bolívia as pessoas estão de saco cheio do Evo Morales, no Brasil o Lula virou motivo de piada. O Jacob Zuma, na África do Sul, o herdeiro político do Mandela, sofre tantas acusações quanto o Lula. As pessoas se cansaram dos redentores.

Ser politicamente incorreto e ser chamado de reacionário não é contraditório?
O bom mocismo de cada época muda. Na Alemanha, em 1930, o bom mocismo era pregar a pureza racial. As universidades que hoje são politicamente corretas, na época elas fundamentavam o nazismo, davam todo o embasamento cientifico para o nazismo. Naquela época, o politicamente incorreto era defender a miscigenação, por exemplo. O politicamente incorreto é o grito de liberdade contra a militância.

E qualquer tipo de militância?
Hoje, como temos uma tradição de esquerda no pensamento, os conservadores que não gostam da esquerda têm que ser um pouco revolucionários.

Logo, a Direita virou contracultura?
Talvez esse seja o ponto. É um erro achar que o conservador é contra mudanças. O Edmund Burke, por exemplo, era a favor da independência dos Estados Unidos, era contra o colonialismo na Índia. Já arranjei briga com conservador por falar isso, mas hoje eu acho que o Edmund Burke seria a favor da legalização da maconha. Ele era contra revoluções radicais, naquela ideia de negar todas as tradições, como os franceses fizeram, “toda a tradição é ruim, vamos com nossas teorias racionais escrever tudo outra vez e reformular a sociedade”. Não seria seguir a tradição cegamente, mas vamos dar valor a ela. É claro que podemos mudar, mas vamos mudar com prudência.

Leandro Narloch recomenda:
Sapiens: Uma Breve História da Humanidade – Yuval Noah Harari.
O Paradoxo Sexual – Susan Pinker.
O Otimista Racional – Matt Ridley.

Eliana de Castro Escrito por:

Fundadora da FAUSTO, é escritora, mestre em Ciência da Religião e autora do romance NANA.