Criar é transcender a matéria, dando concretude e dinamismo àquilo que imaginamos.
Ao juntar elementos, criamos objetos que, para além da utilidade, dão sentido à nossa vida.
E só conseguimos criar algo com sentido quando conhecemos nossa história, sabemos quem somos e temos humildade ante o que nos foi legado, isto é, nossa tradição.
O casal Eliza Jorge Penna e Paulo Jorge Penna, do ateliê O Oleiro, fabrica cerâmicas artesanais que nos levam a alguns dos nossos sentimentos mais longínquos, aqueles que nos lembram momentos afetuosos — ou mesmo aqueles que, por vezes, nos despertam uma saudade idealizada. Afinal, somos animais morais e, por isso, afetuosos.
As cerâmicas criadas pelo O Oleiro nos fazem rememorar nossas ligações mais profundas, através de uma reverência ao Belo — e por que não dizer à Verdade e à Bondade, “trio de valores supremos que justifica nossas inclinações racionais”, nas palavras de Sir Roger Scruton.
O ateliê começou as atividades no ano de 2020, na capital paulista, em um canto da lavanderia de um apartamento.
A proposta foi criar um negócio com foco principalmente na família, a fim de permitir trabalhar próximo dos filhos, mas, acima de tudo, como um empreendimento que poderia dar sentido à vida de todos os envolvidos — desde os proprietários aos clientes.
“O ateliê vem para somar um fazer em família”, explica Paulo.
E essa não é uma bela frase de efeito do cofundador. Georgia, irmã de Elilza, por exemplo, ajuda a cuidar da contabilidade, controlando entradas e saídas e gerenciando as demandas fiscais, indispensáveis a qualquer tipo de empreendimento.
Seu irmão, Anthonio, foi o primeiro e maior incentivador, cedendo espaço em sua livraria para o começo da feitura das cerâmicas. Atualmente, o ateliê funciona em um anexo da casa de “Dona Márcia”, mãe de Eliza, a vovó do coração das crianças que são a base do sentido da vida de Eliza e Paulo.
Outra irmã, Angellica, é tão entusiasta das criações d’O Oleiro, que ainda permanece como a maior cliente.
Mas engana-se quem pensa que não há disputa para esse posto, uma vez que qualquer pessoa que tenha apreço pela beleza e tenta fazer de seu próprio lar um reduto de paz e afeto, apaixona-se visceralmente pelas fotografias das peças que circulam nas redes sociais. Uma vez realizada a compra, como acontece com os melhores afetos, basta a peça chegar em casa que naturalmente preenche a rotina, reforçando os laços.
Em nossa casa, por exemplo, é uma realidade. O jogo de corações de fundo preto, exclusivamente FAUSTO, é parte de nossa rotina pós-almoço, como um momento de conexão não apenas entre dois escritores, mas entre marido e mulher. Como apreciamos citar e recitar uma ideia de Jordan Peterson: a beleza faz-nos lembrar o que permanece para sempre imune ao cinismo.
O trabalho artesanal com cerâmicas nasceu de uma paixão antiga pelo ofício, uma paixão “adormecida”, nas palavras de Eliza.
Hoje, com o ateliê reestruturado, as demandas cresceram, mas os princípios permanecem os mesmos.
Com produção exclusiva e prazos bem planejados, o fazer é cuidadoso, e, por essa razão, o casal não aceita pedidos que demandem prazos “industriais”, assim como volumes superiores a cem unidades. O processo de criação é uma contínua contemplação.
“O ato contemplativo é fundamental para quem deseja produzir algo com sentido e direcionado para o alto, para Deus. A contemplação, na linguagem aristotélica, é um ato moral virtuoso por si mesmo, e, portanto, é indispensável à felicidade. Também é através da contemplação que se restabelece o elo entre o que é produzido e a busca pela transcendência por meio dessa produção. O exercício contemplativo é, a meu ver, o primeiro passo para toda e qualquer pessoa que busque transformar o mero fazer em entrega e oração. Esse é um princípio que orienta toda a nossa atividade no ateliê”, diz Eliza.
Cuidado é uma palavra cara ao ateliê O Oleiro. Tudo o que é fabricado nesse recinto de significados tem um porquê.
E “recinto de significados” não é exagero: o empreendimento familiar de Eliza e Paulo não produz peças com logotipo, por exemplo — o único elemento impresso é a afeição.
As criações d’O Oleiro são focadas em datas comemorativas e estações do ano. Respeitando a característica artesanal, os itens são de baixa tiragem. Já a comercialização se dá pela loja on-line ou por meio do Instagram.
Com mudança constante no catálogo, O Oleiro experimenta, com certa frequência, novas técnicas, o que propicia modelos diferentes, mas todos com a mesma essência e princípios que fizeram a empresa surgir.
Voltemos à beleza e a Scruton. O filósofo inglês, tendo como referência o pensamento teológico cristão, escreve que “a beleza é um valor supremo que buscamos por si só, sem ser necessário fornecermos qualquer motivo ulterior”.
A necessidade de beleza está arraigada em nós. Quanto mais refinado o espírito, mais refinada será sua busca pelo belo.
“A beleza é uma face da verdade. A nossa tentativa, por meio da produção cerâmica, não é só de produzir objetos, mas de transmitir através deles alguns conceitos que, muitas vezes, vamos deixando de lado enquanto a vida cotidiana vai passando, como simplicidade, alegria com as pequenas conquistas, o esforço, a dedicação e a própria generosidade que exercemos em família, com as pessoas que são mais próximas de nós”, observa Eliza.
Os clientes d’O Oleiro buscam unir funcionalidade à beleza. Dessa forma, o ato de tomar um café em uma xícara fabricada pelo ateliê nunca será apenas ingerir o líquido preto: há toda uma experiência estética nesse fazer aparentemente prosaico.
Prezar por um bom ambiente em casa ou no trabalho passa necessariamente pelos objetos que escolhemos.
Um copo, uma caneca, uma xícara ou um prato nunca devem ser apenas meros itens funcionais para aqueles de gosto mais apurado.
E não estamos falando de luxo.
Ou melhor, estamos falando, sim, de luxo, mas do luxo da alma: aquele cujo preço não se mede por vinténs.
Que o espírito criador d’O Oleiro encha e preencha sua vida de sentido!
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