Morte: assunto tabu.
Pouco se fala sobre morte. E poucos falam de morte. Exceção é Philip Roth.
É de bom tom não falar de morte porque há o falso imperativo: o da felicidade abundante, essa que nos rejuvenesce a cada dia. Logo, não há morte.
Contudo, essa ideia não reverte a “programação natural” do corpo, que se hoje vive, amanhã morrerá. Mas há uma suposição de que manter distância do assunto é de alguma forma adiar a morte. Algo então parece estar errado…
Homem Comum, de Philip Roth, é um romance que conta a história de… Bom, o nome do personagem não é citado.
E não importa.
De tão prosaico, ele pode ser qualquer um, nascido em qualquer lugar, em qualquer tempo, porque Roth parte do pressuposto — e isso gera uma identidade sem igual — de que alguns assuntos, acontecimentos e sentimentos são universais: a solidão, a dor de amar, a dificuldade de envelhecer, o medo da morte…
Homem Comum foi lançado em 2006. No Brasil, um ano depois, em 2007. A cena que abre o livro é a do funeral do próprio protagonista. A morte é então o ponto de partida e a linha de chegada de toda a trama.
Conta-se que Roth começou a escrever o livro um dia depois do enterro do escritor canadense Saul Bellow, que morreu em 2005, aos 90 anos.
Como Roth, Bellow era judeu.
Não era apenas a consciência do fim de todo mundo que se revelaria nesse episódio, mas uma questão pungente para o próprio Roth — que se vê em outros títulos como Nêmesis, de 2010; e Patrimônio, de 2012.
O personagem deste romance começa sua jornada aos nove anos, quando é internado em um hospital e ao seu lado assiste a outro garoto morrer.
O ocorrido o impressiona e vai, ao longo de sua vida, se repetindo, uma vez que o protagonista também vê outras pessoas morrerem. Pessoas próximas e nem tão próximas.
Na medida em que vai envelhecendo, porém, sente a vulnerabilidade o engolir. Vulnerabilidade esta que é a própria condição do viver, que na juventude pouco se revela.
O envelhecimento que Roth trata é como um massacre.
Homens comuns bem o sabem.
É exatamente quando o personagem de Homem Comum vai chegando próximo da morte que a história vai ficando mais interessante.
Nas últimas sequências que se torna impossível resistir à escrita obcecada do judeu nova-iorquino – não de nascença nova-iorquino, porque Roth na verdade nasceu em Nova Jersey, mas consolidou-se em sua obra como o judeu nova-iorquino.
Philip Roth em Homem Comum leva a experiência da morte de um outro a todos os seus leitores, o que, indiretamente, faz com que experienciem as sensações do envelhecer e do morrer e assim passem a pensar em suas próprias vidas.
O que é sempre bom. Ainda que se descubra o que o homem comum de Roth descobre.
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