Desempenhar alguma atividade artística é arriscar-se. Não há arte sem risco.
Se o artista é, costumeiramente, aquele que desafia o status quo, ele próprio também é reflexo do espírito de sua época, o zeitgeist, e deve adaptar-se para sobreviver em seu meio.
Se as novas tecnologias trouxeram velocidade de informação e possibilidade de espaços para pessoas com interesse em comum reunirem-se, nada mais sensato do que fazê-lo.
E com o universo artístico não é diferente.
Um exemplo é a plataforma Platore, idealizada pela atriz Nicole Cordery, que funciona como uma espécie de “rede social” para atores brasileiros.
Com a proposta de ajuda mútua, a Platore, por meio de diversos grupos, leva aos participantes informações sobre editais, cursos, castings e audições.
Além disso, a plataforma exibe conteúdos acerca do mercado e promove discussões pertinentes à categoria.
Todo esse ambiente colaborativo destinado a atores profissionais — com DRT — é ofertado de forma gratuita, com o único intuito de fomentar um ecossistema que preze pela troca de ideias e conhecimentos.
Atualmente, a Platore conta com a participação de mais de 800 atores, que encontraram na ferramenta uma ótima maneira de se atentar às oportunidades e atualizações referentes à atividade.
A Enablio, empresa de plataformas virtuais, concedeu o espaço para que a ideia de Nicole se tornasse realidade.
“Minha intenção com a Platore é que possamos nos comunicar num ambiente seguro, falar de assuntos pertinentes, divulgar serviços prestados por atores, considerados muitas vezes como o ‘plano B’, mas que na vida real são os que pagam as contas”, comenta a idealizadora.
A atriz Aila de Barros Rodrigues viu sua carreira mudar a partir da pandemia, período em que também se tornou mãe. Com menos oportunidades de trabalho, Aila foi se capacitar em outra área, tornando-se cabeleireira.
“Uma amiga, que corto o cabelo, comentou comigo sobre a Platore, e achou que seria interessante eu divulgar meus cortes lá. Anunciei nos classificados e a Lívia Lisbôa, que é uma das zeladoras da plataforma, cortou o cabelo comigo”, relatou Aila.
“Além disso, fiquei sabendo, através dos classificados da Platore, que estavam selecionando elenco para um curta-metragem. Participei da seleção, conquistei o papel e já estou no processo de organização da agenda de gravações”, complementou a atriz, que também ingressou em um curso de dança que chegou ao seu conhecimento por meio da plataforma.
Lançada deliberadamente no Dia do Trabalho, 1º de Maio, a Platore nasceu de uma angústia de Nicole ao constatar que o mercado para atores profissionais não está gerando tantas oportunidades.
Não obstante o grande número de editais, são poucos os beneficiados quando se leva em consideração o contingente de inscritos.
“Os streamings investiram pesado no mercado brasileiro um pouco antes e durante a pandemia, mas houve uma ‘puxada no freio de mão’ de 2023 para cá, na minha opinião. Temos também muitos influencers ocupando lugares de bons atores — e tivemos muitos projetos de séries abortados ou com segundas temporadas canceladas. É um somatório de fatores que faz com que a grande quantidade de atores, ou de bons projetos, não estejam acontecendo. Acredito que ainda há formatos a serem inventados, acredito que os atores devem partir para a produção de suas ideias, em paralelo aos castings que surgem no mercado”, reflete a atriz.
A valorização do capital humano em iniciativas como a Platore mostra que nem tudo está perdido. A arte é um grande diferencial da nossa espécie numa escalada vertiginosa da inteligência artificial.
É através do palco do teatro, das páginas de um livro e da tela do cinema que vislumbramos sentimentos iguais aos que sentimos.
Numa época de emoções reprimidas em prol da performance — a corporativa —, a demanda por arte tende a crescer.
É quando não nos enxergamos mais que procuramos aquilo que nos transcende.
Que os artistas possam se arriscar cada vez mais: seja no palco ou nos empreendimentos.
O público agradece.
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