“Talvez o choro seja a grande marca da minha espiritualidade.” Assim que escrevi essa frase para uma personagem de “Valha-me Deus”, meu segundo romance, foi como se eu tivesse encontrado a definição de toda uma vida.
Por razões inacreditavelmente reais, chorei muito.
Chorei, também, pela sentença mais inútil: “Tudo poderia ter sido tão diferente.” Essa frase eternizei em NANA, meu romance de estreia.
Meu leitores me perguntam — perguntam, assim, afirmando — se NANA é uma obra autobiográfica e respondo categoricamente que não.
Todavia, Valha-me Deus sim, é uma espécie de romaria pelas tantas fases que vivi. Porque chorei o equivalente a treze vidas de mulheres escolhidas pelo destino para dramas e tragédias inimagináveis — são treze as personagens principais da ficção.
Se você não sabe quem eu sou, é gentil que eu me apresente!
Meu nome é Eliana de Castro, sou romancista, fundei a FAUSTO, revista de cultura, filosofia e literatura, na qual publico entrevistas com os mais importantes intelectuais do mundo, além de personalidades midiáticas de alta relevância.
O papel da FAUSTO em minha trajetória de lágrimas é imperioso! Uma sutileza acerca do qual discorrerei neste bate-papo íntimo. Com a FAUSTO, posso adiantar, me realizei como profissional e firmei meu nome com originalidade e muito bom gosto.
Se eu escrevo assim mesmo, com toda essa segurança? Pode apostar!
Porque o dia chega.
Paramos de chorar e nem percebemos que passamos a nos apresentar com todas as qualidades que temos — não mais sombreadas por mágoas, ressentimentos e inseguranças.
Não preciso saber sua idade para compreender os seus muitos anos de choro. Provavelmente, escondidos.
Refiro-me àquele choro doído, àquele ímpeto que irrompe no metrô e desconsidera qualquer pessoa ao lado. Ou, pior, aquele choro guardado, que por não jorrar, marca o rosto e nos faz carregar uma fisionomia carregada. Por fim, àquele imensurável desaguar que talvez nem saibamos a causa — ou sabemos, mas não faz mais diferença.
Porque chega uma hora que choramos tanto que não faz mais diferença a justiça, a vingança ou o perdão.
Então, lá vai: para você viver uma vida minimamente plena é melhor que não minta para si mesmo.
Esse foi meu valor basilar. E, juro, como ele foi imprescindível!
A lógica é simples: quando falamos a verdade para nós mesmos, conseguimos ter uma visão mais ampla da vida que temos — e a da que queremos ter.
Nos meus anos 1980, Renato Russo sabiamente cantava: mentir para si mesmo é sempre a pior mentira…
Quando comecei a escrever Valha-me Deus, julguei que a fé fosse incapaz de me fazer parar de chorar.
Chorei por meu pai, por minha mãe, por razões que não fazem sentido. Chorei amizades traídas, corações partidos, ideias que chamei de fatos para justificar meus medos.
Chorei de solidão. Chorei pela vontade de ser verdadeiramente amada. Logo, chorei por mim mesma. Por muitas vezes ser inábil para me desvencilhar de quem me impedia de eu me exercer.
Essa é uma razão de choro muitíssimo comum; pouco “diagnosticada”. Ou assumida.
Deixamos que os outros nos digam quem somos — e eles dizem! Então choramos a vida inteira por causa disso.
O segundo valor que me salvou de minhas próprias lágrimas: a dor só tem serventia quando a transformamos em ação. Nem que seja a ação de ir chorar num lugar diferente do costumeiro. Chorando, conheci ótimos lugares e pessoas…
A grande verdade acerca de meus emperramentos é que chorei por não saber como me reconhecer sem um rosto de lágrimas.
É ótimo poder chorar, mas em que momento nossas lágrimas se tornam uma prisão impalpável?
Quando olhamos para o calendário: “Já é…”
O tempo.
Desde que nasci, até os meus trinta anos, morei na periferia. Em casa de infância havia tudo, menos amor. Lá não era o meu lugar. A arte era o meu lugar.
Quando criança, eu andava nas guias das ruas para treinar o equilíbrio, porque eu sonhava ser bailarina. Depois, passei a desenhar roupas, principalmente as que a apresentadora Angélica usava em seus programas — ainda tenho centenas e centenas desses desenhos. Sonhava, portanto, ser estilista — não à toa Nana é uma costureira.
As novelas ensinaram-me a ser mulher. Malu Mader, Helena Ranaldi, Patrícia Pillar, Letícia Spiller… Uma inteligência precoce mapeou o que havia de errado em minha casa: a referência.
Comecei a escrever diários aos 12 anos. Neles, eu confessava os sonhos que não poderiam ser capturados por minha mãe.
Chorei incalculavelmente por minha mãe.
Cheguei a pensar que morreria de tanto chorar, mas apenas dormia. O sono, depois de um longo choro, é triste demais. É um tempo infinito de vida que se esvai…
Meus pais morreram sem nunca ter ido ao cinema, teatro, sem nunca ter lido um livro — e penso que só por isso eu não deveria ter chorado tanto; mas, como também escrevi em NANA: “Lágrimas que choramos por pai e mãe são lágrimas de formação.”
Ergui projetos únicos sem um rosto: meu trabalho chegou na frente.
A lágrima, porém, acompanhou-me até uma conclusão óbvia: um dia envelhecemos e percebemos que o tempo se foi.
Assim como uma febre, que nada mais é do que uma resposta do corpo a uma inflamação; o choro é uma recusa do ser a uma opressão — imposta por nós ou por alguém.
E é muito mais fácil vencer algo imposto por alguém, acredite. Porque as crenças que criamos, quando se enraízam…
Minhas lágrimas me ensinaram a escrever de forma maliciosa, sempre tive talento para brilhar, embora pouca disposição para fingir felicidade. Quando me conferem o atributo “determinada” corrijo para “sobrevivente”.
Em contrapartida, desafio que achem alguém tão capaz de se encantar. Essas mesmas lágrimas refinaram minha sensibilidade, tornei-me alguém capaz de achar um dálmata a mais pura prova de milagre.
Minha escrita é milagre.
Hoje, sou mulher de mim mesma. Posso falar em meu nome. Isso é de um poder tremendo! Assim, pensei que posso ensinar como se chora.
Neste introito, quero deixar a primeira direção: pare de chorar e aja!
Ou aja chorando.
Chega-se lá, no privilégio de ser.
Como?
Com raiva.
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