Thomas Sowell – Aquele que não é vítima

Os temas que mais tocam a natureza humana estão de volta. Desta vez em uma reflexão sobre o conjunto da obra de Thomas Sowell. Parte da Biblioteca Crítica Social, o historiador Fernando Amed apresenta Thomas Sowell – Da obrigação moral de ser cético.

Um dos biografados da coleção coordenada pelo filósofo Luiz Felipe Pondé – e publicada pela É Realizações – é revelado por Fernando Amed, doutor em História pela USP, em um ensaio metódico que apresenta notas biográficas, um panorama sobre o contexto histórico e cultural de Conflitos e Visões – um dos livros mais importantes de Sowell, no qual “expurga seus demônios” – além de breve estudo do livro.

Thomas Sowell.
Thomas Sowell.

Todavia, não fica de fora outra publicação, interessantíssima, diga-se: Os Intelectuais e a Sociedade. É nessa obra que Sowell escreve que “os intelectuais ungidos seriam os únicos capazes de ‘salvar’ o homem”, como descreve Pondé no prefácio. Ele mesmo, aliás, utiliza frequentemente o termo de Sowell em sua coluna na Folha de S.Paulo.

Das características de Sowell que Amed trabalha no ensaio, a clareza do texto do americano destaca-se. Característico de quem está acostumado com o debate na mídia – e não é arrogante –, segundo o historiador, Sowell tem em mente ao escrever “o mais difícil de seus alunos e aquele que mais obstáculos apresenta para a compreensão”.

Que Thomas Sowell – Da obrigação moral de ser cético seja então a porta de entrada para a obra do norte-americano nascido na Carolina do Norte. Aos 86 anos, Sowell acumula 37 livros publicados, além de nove coletâneas.

Talvez Sowell escreva para pessoas comuns principalmente porque viveu na própria pele o maior dos dilemas comuns: o da sobrevivência.

Nascido muito pobre, galgou com muito estudo a própria trajetória, hoje de grande sucesso. Se ocupa lugar de importância – tanto na academia quanto na mídia –, não deve ser visto, contudo, como exemplo de “pobre que venceu na vida”, mas sim como símbolo de árduo trabalho e disciplina. O papel de vítima nunca encontrou em Sowell o seu lugar, ainda que o intelectual tenha um capital simbólico de dar inveja a qualquer militante. But, sorry.

Fernando Amed revela o que é possível encontrar em seus textos: “Persistência em se voltar para a análise de temas que se forjam como unanimidades, seja nos departamentos de humanidades das principais universidades norte-americanas, seja na mídia propriamente dita.” Neste caldeirão entram racismo, feminismo, a intelligentsia… Rendem boas discussões, não? Amed ainda fala sobre os tipos de intelectuais em Sowell: os “ungidos” e os de “visão trágica”.

Para aquecer a leitura de Thomas Sowell – Da obrigação moral de ser cético, fica um trecho que trata de Os Intelectuais e a Sociedade:

“O uso da palavra intelectual como adjetivo, que é o saldo que Sowell pretendeu dispor nessa obra, faz com que uma linha divisória entre bem e mal se configure. Assim, colocar-se contra aqueles que advogam pelo bem comum, pela liberdade e pela paz entre as nações, dispõe o crítico na condição de maléfico. Veja-se que conservador e reacionário são adjetivos depreciativos, e que ser de vanguarda e progressista, pelo contrário, são agregados à dimensão de bem.”

 

 

Eliana de Castro Escrito por:

Fundadora da FAUSTO, é escritora, mestre em Ciência da Religião e autora do romance NANA.