“Qual é o segredo do universo?”, pergunta Cássio Scapin para a plateia do Teatro FAAP ao fim da peça Insignificância.
Usamos o próprio nome do espetáculo para responder.
Talvez soe pessimista, mas reconhecer nossa insignificância também pode ser visto como um ato de humildade ante o cosmos.
Diante da imensidão do universo, os concidadãos da Nova York dos anos cinquenta pareciam mais interessados nas curvas de Marilyn Monroe — que na montagem é interpretada por Amanda Acosta.
No texto de Terry Johnson, lançado em 1983, traduzido para o português por Gregório Duvivier, um encontro inusitado entre a atriz norte-americana e o físico alemão Albert Einstein, vivido por Scapin, acontece num quarto de hotel da cidade que nunca dorme.
O cientista, acostumado com os segredos do universo, se vê diante da beldade e seus problemas com a fama e, claro, a insignificância acerca de sua verdadeira natureza.
Einstein, antes de recebê-la, havia conversado, ali mesmo em seu quarto, com o senador Joe McCarthy, que liderou a maior perseguição dos Estados Unidos de personalidades consideradas “comunistas”.
McCarthy ficou sob atuação de Norival Rizzo e o encontro de ambos gira em torno da audiência que ocorreria no dia seguinte.
O senador no calcanhar de Einstein, Marilyn interessada em abaixar suas calças.
Marilyn, Einstein e McCarthy. É assim que começa Insignificância — uma comédia relativa, jogando luz em questões comezinhas como a fama, o ciúme, as fantasias de uma vida que é bem mais complicada de se viver, na realidade. Porque tudo é comezinho quando o ponto de referência é o universo.
Mais uma estrela compõe a constelação terrena: Joe Dimaggio, o grande jogador de beisebol e marido de Marilyn à época, na peça interpretado por Marcos Veras.
O quarto de Einstein, ocupado por folhas riscadas com cálculos que tentam desvendar os mistérios do universo, torna-se o centro de discussão de um casal de famosos que lava a roupa suja sob os holofotes.
Einstein, acostumado às estrelas, não reconhece a estrela. Marilyn não chegou ao seu quarto por acaso: queria conhecê-lo pessoalmente.
A atriz havia acabado de sair da gravação da icônica cena em que seu vestido se levanta com o vento do metrô de O Pecado Mora ao Lado — episódio que desencadeou um dos atos de violência física de Dimaggio contra Marilyn.
Na peça, a atriz consegue escapar das centenas de fãs que acompanhavam a gravação e vai ao encontro do cientista.
Na ficção, numa lista de homens com quem a atriz dormiria, é surpreendente a posição do cientista.
Numa mistura de sensualidade e ansiedade quase vexaminosa, muito bem feita por Amanda Acosta, Marilyn tenta mostrar que não é insignificante ao dar exemplos da teoria da relatividade com brinquedos — para a surpresa do gênio da física.
Ninguém quer ser insignificante, apesar de quase ninguém resistir a ser um produto. Afinal, para um indivíduo o universo tem seu tamanho.
Em nosso universo particular, queremos provar que somos alguém. Alguém com consistência suficiente para encontrar significado em meio à insignificância.
A produção de Insignificância — uma comédia relativa fica por conta de Rodrigo Velloni; quem assina a direção é Victor Garcia Peralta.
E para você, qual é o segredo do universo?
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