Michael Kiwanuka: tempo, espaço, memória e saudade

Aperte o play no álbum Home Again, de Michael Kiwanuka, e permita-se uma viagem no tempo.

Viaje para uma época distante, um passado remoto, onde possa encontrar seu lugar secreto, perfeito para mergulhar em algo extraordinário.

A música de Kiwanuka não apenas diminui a velocidade dos pensamentos, mas também alivia a inquietude que muitas vezes assombra.

Seu disco de estreia é tão vanguardista que desperta uma saudade de uma época que talvez nunca tenhamos vivido.

Encontrar esse encaixe no mundo não é busca incomum. Como Kiwanuka canta: “Um dia eu sei que me sentirei em casa de novo.

A experiência é espiritual, religiosa, memorial.

A música de Michael Kiwanuka carrega um monumento: cultural, racial e social; em outras palavras, histórico.

E, de alguma forma, tudo isso ao mesmo tempo proporciona um reconforto emocional. Falar sobre… Cantar sobre…

Memória e saudade formam um refúgio acolhedor, um lugar quente, assim como a voz de Kiwanuka, que preserva o melhor das canções do passado numa proposta sonora moderna, repleta de nuances sutis e étnicas.

Kiwanuka combina folk, indie rock e R&B, com referências ugandenses marcantes.

Home Again é uma obra-prima que celebra a música como uma arte que nasce dos sentimentos, com a missão de entender os sentimentos.

Nascido no Reino Unido, filho de pais ugandenses que fugiram do regime de Idi Amin nos anos 1970, Michael Kiwanuka começou como guitarrista em bandas de colégio.

Inspirado por Jimi Hendrix, ele acreditava que um dia conquistaria destaque, mas nunca imaginou que seria como cantor.

No entanto, a vida tem suas surpresas. Um dia, uma coleção de Bob Dylan encantou Kiwanuka, levando-o a criar suas próprias composições.

Inseguro sobre a aceitação de músicas tão emocionais, ele hesitou em mostrá-las a alguém. Felizmente, alguém acreditou em seu talento — Paul Butler, dos Bees.

Kiwanuka, no início, abriu shows para Adele.

Do álbum Home Again, a canção Rest tem uma melodia e letra quase religiosas, proporcionando um mergulho sonoro-emocional profundo.

Outro destaque é I’ll Get Along, naturalmente sensual.

Apesar da estética sonora vinculada ao passado, as preferências musicais de Kiwanuka incluem bandas contemporâneas como Radiohead e Nirvana. Ele estudou jazz na Royal Academy of Music e música pop na Westminster University.

Sua identidade musical foi moldada por Otis Redding, cuja influência sensual e poderosa se reflete em suas composições.

A música de Michael Kiwanuka é completa, bela e tocante. Sua voz barítono é fonte esquecida do passado que se conecta a tempos distintos.

Michael Kiwanuka é isso: interconexão.

Suas palavras-chave são tempo, espaço, memória e saudade.

Seus álbuns, repletos de canções longas, oferecem propostas ousadas e imersivas para almas impetuosas.
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NANA livro

Eliana de Castro Escrito por:

Fundadora da FAUSTO, é escritora, mestre em Ciência da Religião e autora do romance NANA.