O destino de uma nação ou a hora mais escura?

O recente filme O destino de uma nação, do diretor Joe Wright, nos brinda com uma intepretação magistral de Gary Oldman como Winston Churchill.

A história se passa em maio de 1940, entre a queda de Neville Chamberlain e a escolha, a posse e os primeiros momentos do Governo de Churchill. O nome no Brasil é diferente do original: The darkest hour. A hora mais obscura.

O destino de uma nação, da sociedade ocidental e do mundo livre estavam agora nas mãos de Churchill.

O momento, no entanto, não poderia ser mais obscuro. Hitler avançava inexoravelmente para conquistar a França e grande parte da força expedicionária britânica, mais de 300 mil soldados e equipamentos, encontravam-se encurralados no litoral francês e belga.

A situação de Churchill, um líder não desejado – unwanted – era delicada. Sua escolha não fora pacífica e sofria enorme resistência dentro de seu partido.

O filme demonstra o dilema entre lutar a guerra de forma mais objetiva ou resgatar a política de apaziguamento, justamente aquela que havia permitido que o mundo entrasse em conflito. A obra retrata a indecisão de Churchill e os duelos com as lideranças do partido Conservador.

Mas foi assim mesmo que os fatos aconteceram? Posso afirmar que não. Pode-se dar créditos a liberdade poética do diretor para fatos e frases relatados no filme. A indecisão de Churchill está baseada na pesquisa do escritor e roteirista Anthony McCarten, que relata diversos aspectos alicerçados em atas destruídas após a guerra e depoimentos especulativos.

Lorde Halifax não era, por assim dizer, tão “anti-Churchill” e o papel do líder trabalhista Clement Atlee e do Ministro de relações exteriores Anthony Eden não foram de meros coadjuvantes. Muitas citações não foram ditas nem por aquelas pessoas, nem naqueles contextos.

Quando Churchill discute com Halifax dizendo “pare de me interromper enquanto eu estou lhe interrompendo”, esta fala foi dita por Churchill para seu filho Randolph em um jantar. Ao final do filme, a frase de Halifax quando menciona que “Churchill mobilizou a língua inglesa e a levou para a guerra”, foi dita por John Kennedy, muitos anos depois. Churchill mantinha o hábito de andar nas ruas e estar com o povo. Talvez a cena do metrô não tenha nem acontecido, mas ele tinha a sensibilidade das ruas por experiência própria.

Nada disso afeta a beleza e a intensidade do filme. A adaptação de Joe Wright fortalece a imagem humana, contraditória e grandiosa de Churchill. O destino da nação, e do mundo caíra nas mãos de um homem que se preparara a vida toda para este momento, o mais obscuro da história recente.

Em meu livro, Churchill e a Ciência por Trás dos Discursos: Como Palavras se Transformam em Armas, lançado pela LVM, aprofundo o mergulho na análise de 12 discursos realizados durante a guerra, a retórica, o contexto e os resultados que procurava obter.

A importância de trazer Churchill de volta ao século XXI é uma tentativa de aprimorar nossas lideranças através de exemplos reais, humanos e possíveis desde que haja humildade e grandeza.

O Destino de uma nação merece muitas idas ao cinema.

 

 

 

Ricardo Sondermann Escrito por:

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