Oppenheimer em Thomas Sowell e Jacques Ellul

A crença no progresso científico como promotor de uma sociedade melhor permeia ideias e o debate público desde tempos imemoriais, levando-nos a acreditar que as respostas para os males do mundo se encontram no avanço das técnicas e dos métodos.

Adeptos do que Thomas Sowell chama de visão irrestrita, em seu livro Conflito de Visões, tendem a ter essa perspectiva, visto que acreditam no aprimoramento do potencial humano no que diz respeito à sua natureza e, consequentemente, nas ações concretas que levem à utopia almejada.

O filme Oppenheimer, dirigido por Christopher Nolan, traz reflexões acerca da potencialidade humana tanto para a criação quanto para a destruição, tendo a técnica e a ciência como verdadeiras sacralidades seculares, em que uma suposta paz em um período de guerra pode ser obtida através da demonstração do poder de extermínio dos envolvidos no conflito – no caso da película que conta a história do “pai da bomba atômica”, a Segunda Guerra Mundial.

Conforme retrata Nolan, o próprio Julius Robert Oppenheimer acreditava que o Projeto Manhattan colocaria um fim a todas as guerras, já que a exibição do potencial destrutivo da bomba atômica levaria – e de fato levou – os confrontos bélicos a outro patamar e, com os receios de um extermínio de escala global, os poderes do Eixo não dariam continuidade a seu plano de expansão.

Em seu livro Ortodoxia Subversiva, Robert Inchausti, no trecho dedicado a Jacques Ellul, diz que a chave para analisar o historiador está em sua crítica à “adoração do método e da técnica como as respostas para todos os problemas do mundo”.

A fé no progresso científico como “agente da salvação social tem o efeito paradoxal de nos tornar menos livres no exato momento em que nos torna mais poderosos”.

Caso Ellul esteja certo, escreve Inchausti, “devemos encarar todas as conquistas tecnológicas, mesmo as geniais, com um pé atrás”.

Para Ellul, a questão fundamental não é a técnica em si, mas a ideia de que tendemos, perigosamente, a explorar as potencialidades até as últimas consequências: a realidade do fenômeno técnico escapa ao controle humano porque reafirma a nossa natureza.

Quase 80 anos se passaram desde que as bombas atômicas foram jogadas sobre Hiroshima e Nagasaki, e os temores de destruição do mundo permanecem nos assombrando.

Os conflitos internos de Oppenheimer, o “Prometeu americano”, se externalizaram para uma angústia generalizada: agora, todos nós carregamos o peso da consciência de nossa capacidade técnica e autodestrutiva.

Mas, voltando a Sowell, os adeptos da visão restrita, isto é, aqueles que estão mais propensos a crer nas limitações morais do homem, não costumam se entusiasmar com os progressos científicos e técnicos da humanidade, não a ponto de acreditar que isso modificaria a natureza humana.

Túlio França Escrito por: