Nem todos sabem, mas Luiz Felipe Pondé é bastante engraçado. De verdade! Pensar com a própria cabeça, como recomenda o subtítulo desse livro, pode começar por aí. Ou seja, esqueça os estereótipos que envolvem o autor. Filosofia para Corajosos é para audaciosos, sim, mas também para quem deseja ter uma experiência agradável com a filosofia.
O fato de Pondé ser divertido garante um pouco isso. E ao contrário do que supõem os “ungidos”, como diz o escritor, fazer da experiência filosófica uma experiência deleitosa não é desvalorizá-la. Muito menos desvaloriza a trajetória do próprio autor. Um de seus primeiros conselhos, inclusive, é “desistir de agradar quando se pensa.”
Torna-se então uma vantagem competitiva, no universo egocêntrico dos intelectuais, falar de maneira tão simples? Pode ser. O que não há dúvidas, entretanto, é o maneio sedutor do filósofo na arte de ensinar. Talvez, e exatamente por isso, Filosofia para Corajosos possa causar algum tipo de irritação nervosa: o leitor comum vai, definitivamente, compreender princípios básicos da filosofia. Sabe o tal imperativo categórico? Ou a diferença entre ética e moral? Tudo isso Pondé explica.
Nietzsche, Kant, Platão, Aristóteles. Todos eles aplicados como pouco se lê por aí. O intuito do escritor com este livro não é tornar ninguém mais feliz, mas “pelo menos um pouco menos medíocre”. Os capítulos são curtos, fáceis de acompanhar e seguem sem uma metodologia específica: “prefiro o gozo filosófico ao método filosófico.”
Como sempre faz em seus livros, Pondé recomenda títulos que tornam o bate-papo literário literalmente mais profundo. Há tanto indicações da literatura universal quanto de grandes nomes do pensamento. Entre os imprescindíveis, que tal Schelling com o seu A essência da liberdade humana? Esse é o título com o qual Pondé abre Filosofia para Corajosos.
Como uma pessoa com visão de mundo, digamos, tão pessimista motiva a tantos a segui-lo? Fica a pergunta para os que buscam uma vida perfeita. E esses também têm lugar neste livro.
A divisão dos temas em Filosofia para Corajosos é bastante pessoal. Em Uma filosofia em primeira pessoa, por exemplo, Pondé conta como deixou a medicina pela filosofia e algumas de suas motivações – nada, aliás, motivadoras.
Ironias também não faltam, é claro: “Ainda que bobinhos achem que avançamos porque eles juram fidelidade à rúcula.”
Na segunda parte – Grandes tópicos da filosofia ao longo do tempo -, o escritor discorre sobre religião e espiritualidade, metafísica, a existência de Deus, vida após a morte, materialismo, hedonismo, entre outros temas que não saem das conversas cotidianas.
Agora, se você se assustou com todos esses termos, não se preocupe. Outra arte de Pondé é transformar seus demônios em esperança para os outros. Em um mundo cheio de “modelos de sucesso”, talvez o que os inquietos mais anseiem seja justamente alguém que prove que você não é o único fracassado.
Filosofia para Corajosos é isso: “filosofia do ponto de vista do usuário“.
Na terceira e última parte, cujo título é Por que acho o mundo contemporâneo ridículo, o provocador das segundas-feiras da Folha de S.Paulo encerra tratando sobre a cultura dos direitos, narcisismo, desigualdade social e mania de perfeição: “A vida é bela, violenta e imunda, não há como fugir disso sem eliminar a própria vida.”
Definitivamente – preparem suas armas, “ungidos” – este livro não é para quem nega as questões mais humanas em todos nós. Por isso mesmo cotidianas, por isso mesmo banais. É preciso mesmo um pouco de coragem para enfrentá-las.