Theodore Dalrymple – Aquele que relembra Jekyll e Hyde

Biblioteca Crítica Social: uma das coleções mais convidativas para quem deseja ampliar repertório com curadoria cuidadosa e ensaios caprichados.

Quando devemos à literatura uma das maiores e melhores experiências de encantamento que poderíamos viver, desfrutar dessas biografias é dever.

Dever, é claro, para mentes mais inquietas, essas que não perdem a oportunidade de investigar as contradições da natureza humana. No livro da vez, Theodore Dalrymple A ruína mental dos novos bárbaros, o historiador Maurício Righi apresenta o psiquiatra inglês e o universo calamitoso revelado em sua obra. O título sai pela É Realizações.

Theodore Dalrymple Psychiater/Auteur Amsterdam 2006 Foto Marco Bakker
Theodore Dalrymple.

O sumo do pensamento de Theodore Dalrymple é a ruína moral e a destruição do caráter no mundo contemporâneo.

Quando Righi denomina os relatos apresentados pelo médico nascido Anthony Daniels como a “antropologia” de Dalrymple, o historiador parece não ter dúvidas de que o inglês realizou um estudo aprofundado – lato e in loco – sobre o homem e o seu comportamento.

Os casos apresentados nas obras foram observados em clínicas e hospitais de países africanos e nos cantos da Inglaterra. O autor, como todo conservador sério, segundo Righi, reflete sobre como recuperar verdades esquecidas – ou já perdidas? – que um dia foram comprovadamente eficazes para a sociedade.

Uma vantagem para o leitor de Theodore Dalrymple – A ruína mental dos novos bárbaros é: como deve prezar todo historiador sério, Righi primeiramente insere o leitor no universo de Dalrymple, descrevendo envolventemente o contexto histórico não apenas do período da Inglaterra em que viveu o médico relator como um pouco antes.

Ou seja, o magnífico século XIX, quando a sociedade britânica tornou-se um expoente econômico e cultural, até a derrocada pós-guerras. Righi contextualiza o leitor e ampara a obra do inglês: “Dalrymple nos sugere que tamanho descaso envolveu algo ainda pior: uma traição.

Embora os relatos de Theodore Dalrymple choquem, não dá para dizer que se prendem apenas à inclinação do homem para o mal. Em outras palavras, não há um esforço para dizer que o mal é mais forte do que o bem, apenas que o bem não é a única condição essencial do indivíduo, sendo esta corrompida pelo externo, como supõem outras teorias.

De acordo com Righi: “O mal nos engana o tempo todo, principalmente quando o promovemos em nome de um bem maior”.

Ou ainda: “Em Dalrymple, o mal está inscrito no coração humano, da mesma forma que, no mesmo coração, inscreve-se o potencial para o bem.

Quando apresenta um pouco a história pessoal do autor, Maurício Righi chama a atenção principalmente sobre como o pai, “envolvido com os ideais do leninismo e do stalinismo“, impactou forte e negativamente o jovem Daniels.

Eis mais um trecho:”Eu via como a preocupação que meu pai dizia ter em relação ao destino da humanidade era em geral contraditória diante do desprezo que ele tinha pelas pessoas que o cercava.

O prefácio escrito pelo filósofo Luiz Felipe Pondé – quem coordena esta série – revela também o que observamos em Russell Kirk – O peregrino na Terra Desolada, de Alex Catharino: é a pena mais elegante do escritor visceral.

Embora curtos, esses textos de Pondé são introduções elegantes e apresentam o novo conteúdo – para quem está muito mal servido de autores bons no “grande supermercado universitário das ideias”, como nomeia Maurício Righi – sem abrir mão de um olhar arguto e mais experiente.

A experiência do leitor com Theodore Dalrymple A ruína mental dos novos bárbaros será gratificante a ponto de interromper a leitura, vez ou outra, para “dar um Google” e conhecer mais livros do inglês.

 

 

 

 

Eliana de Castro Escrito por:

Fundadora da FAUSTO, é escritora, mestre em Ciência da Religião e autora do romance NANA.