Um ícone acidental. Assim se define Lyn Slater, a blogueira de moda americana de 64 anos. Ainda que tenha sido por acidente, de forma alguma é irrelevante. As fotos publicadas em seu Accidental Icon são estilosas, inusitadas e divertidas. Logo, representam quase nada do que uma senhora de sua idade faria. E que ótimo! A vida é agora e importa apenas a opinião dos mais íntimos – por isso é importante escolher bem os mais íntimos. Com exclusividade para a FAUSTO, Lyn Slater, que também é doutora em assistência social e dá aulas na Fordham University, em Nova York, conversa sobre moda, envelhecer, como alcançar a autenticidade e, claro, a importância da opinião alheia sobre quem somos ou deixamos de ser. De imediato, fica a reflexão: você vive exatamente como deseja?
FAUSTO – O que você levou 64 anos para aprender?
Lyn Slater: Sou pragmática em todos os sentidos da palavra. Além do mais, todas as minhas experiências, tudo o que vivi, foram em ambientes em constante mudança. Então, isso faz com que o aprendizado aconteça no momento, durante o processo de fazer as coisas. Levando isso em consideração, suponho que a lição que aprendi é que “não há lá”.
A vida é agora…
O que você acha que conhece está constantemente sendo desafiado justamente por causa do mundo em constante mudança. Ou seja, do contexto em que vivemos. O conhecimento é impermanente e deve ser sempre criticamente aprofundado.
Envelhecer, obviamente, não é tabu para você…
Esses dois temas, envelhecimento e fim da vida, tornaram-se muito confortáveis para mim, principalmente após o ataque terrorista de 11 de setembro, em Nova York, onde vivo. Foi quando aceitei que a morte é inevitável e não há nada que eu possa fazer para controlar esse momento, mas posso ter controle sobre como vivo todos os dias.
A moda é uma das maneiras que nos leva da inautenticidade à autenticidade?
Para mim, isso tem sido incontestavelmente verdade, com a ressalva de que você deve controlar sua moda e não deixar que ela controle você, através de tendências, mídia, editoriais, etc. Porque para mim, a moda é uma maneira, ou uma matéria-prima, que uso para expressar e criar minha identidade, experimentar coisas novas ou resistir a outras aceitas culturalmente, acredito que é uma expressão autêntica do meu eu criativo e essencial.
Você é contra a imposição da moda?
Entendo que todo fenômeno e sistema têm, ambos, aspectos produtivos e opressivos, incluindo o sistema de moda, mas acredito que a consciência dessa ideia já é um passo inicial.
Como alcançar a autenticidade?
Compreendendo a própria natureza em seu meio. Com base na pergunta anterior, primeiro é preciso estar ciente de que somos seres socialmente construídos. Ou seja, é preciso compreender as maneiras pelas quais a cultura, o Estado e a mídia moldam e informam todos os aspectos do nosso ser. É o primeiro passo crítico.
E o segundo?
O segundo, ou a parte pessoal da equação, é estar consciente de como você está pensando, sentindo e se comportando. Uma vez que você conhece quem você é, e quem você gostou de ter sido, você pode fazer escolhas que estão mais de acordo com como você se vê.
A moda pode então tanto esconder o vazio da vida como dar colorido à vida?
Novamente, se você entender os aspectos produtivos e opressivos da moda, ou de qualquer sistema, você pode usá-la como uma ferramenta para ser o seu mais autêntico “eu”.
Qual é o propósito da opinião alheia? Elas podem ser úteis?
Às vezes, sim. Nem sempre estamos conscientes dos nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos. Conversar com pessoas que nos levam a pensar, que são observadoras, pode render ideias novas e diferentes, ou novas maneiras de enxergar.
Como é para você?
O que torna as opiniões de outras pessoas importantes para mim é que elas oferecem múltiplas perspectivas sobre uma ideia ou um fenômeno. Sabendo que estou enraizada em minhas próprias posições e experiências, ouvir a opinião dos outros me permite expandir meu conhecimento da própria experiência humana.
Qual é o maior presente da maturidade?
Aceitação.
O essencial é invisível aos olhos?
Isso, penso que é equivalente a um conceito que amo, do psicanalista Christopher Bollas. Ele fala sobre o “conhecimento não considerado”, que é uma experiência sensorial de saber algo sem que esse saber seja totalmente consciente, ou que se tenha palavras para expressá-lo. Experimentei isso no meu trabalho e na vida motriz, então, concordo com a ideia.