Helena Blavatsky – A voz do silêncio: iluminação, tantos trocadilhos…

“Uma mulher à frente de seu tempo”.

A frase é comum quando se refere a mulheres que não foram compreendidas enquanto estavam vivas.

Ou melhor, que foram invejadas enquanto estavam vivas.

Helena Blavatsky – A voz do silêncio é um monólogo que apresenta uma das personalidades mais importantes do século XIX.

Em cartaz no Teatro Itália Bandeirantes, volta a São Paulo com um público ansioso à espera. Como nós.

Figura misteriosa, conhecedora de culturas sem-fim, amiga dos invisíveis e inimiga dos que não conseguiam enxergar o óbvio, quem dá vida à cientista mística é Beth Zalcman.

Com direção de Luiz Antônio Rocha e texto de Lucia Helena Galvão, a montagem tem como pontos fortes a imponência de Zalcman e a iluminação criada por Ricardo Fuji. Belíssima!

Iluminação… Permite tantos trocadilhos!

Helena Blavatsky nasceu em 12 de agosto de 1831, na Rússia, e foi uma das fundadoras da Sociedade Teosófica, organização que se debruça nos estudos da espiritualidade, do ocultismo e demais filosofias religiosas.

Em linhas gerais, a teosofia propõe a busca pelo conhecimento espiritual, mas não da mesma forma que as religiões tradicionais.

Por meio da teosofia é possível, digamos, transcender. Ir além. Sem culpas. Sem limites. Ou estou falando de Helena Blavatsky?

Sem ética?

Blavatsky foi acusada de charlatã, ganhou inimigos e ainda hoje seu pensamento é motivo de controvérsias, críticas e especulações.

Aos propensos ao esoterismo e manifestações ocultas, ou a tudo aquilo que parece não ter explicação racional, mas segue uma ordem, no mínimo, intrigante, Helena Blavatsky pode convencer.

Como tudo que é religioso, aliás.

As possibilidades são tão intangíveis que não requerem precisão, só basta que batam no mais fundo de nossos vazios para que ouçamos com ouvidos inclinados as lições de Blavatsky.

Como tudo na cultura, aliás.

As artes podem questionar, esmiuçar, enfrentar e desmentir o que quiserem e ainda assim encherem de sentido aquele que dela se alimenta. Nada precisa ter lógica, posto que nosso imaginário é um imenso quintal para brincar.

O recorte temporal do espetáculo é preciso: fim do século XIX, último dia de vida de Helena Blavatsky.

Em seu quarto, numa noite fria de Londres, apenas uma vela ilumina seu rosto e seus pensamentos ganham a luz cênica tão mística quanto suas frases de efeito.

No navegar das memórias de uma vida inteira, Helena repassa grandes momentos vividos, pessoas que conheceu, lugares, ensinamentos e o conhecimento que deixará como legado.

Narrada, a vida de Helena Blavatsky permeia seus textos.

Seus textos e ela são a mesma coisa.

Ao lê-la, posteriormente, permanece a sensação envolvente do espetáculo.

A arte é uma serva!

A imaginação é uma serva!

Mas ambas não são déspotas.

Assim, depois de 60 elegantes minutos de reflexão, Blavatsky chega ao fim da vida.

Chega à conclusão de que seu comprometimento com o que entendeu ser sua missão, mesmo com todas as consequências, foi férreo.

Isso é invejável em qualquer tempo, sobretudo no nosso, enquanto o temos nas mãos.

Helena Blavatsky morreu em 8 de maio de 1891, em Londres, na Inglaterra.

Foi quando nasceu o mito.

Eliana de Castro Escrito por:

Fundadora da FAUSTO, é escritora, mestre em Ciência da Religião e autora do romance NANA.