Maria Madalena é belíssimo. Sensibilíssimo. Como só o amor verdadeiro pode tornar uma experiência, uma existência, uma relação.
Maria Madalena é um filme silencioso. Ou meus ouvidos se fecharam quando na primeira lágrima de Rooney Mara – que está esplêndida! – imaginei como deveria ser insuportável não poder ser.
Como se não fosse cansativo o bastasse ser inquieto livre, ser inquieto prisioneiro é morrer aos poucos por implosão, irrupção violenta. Não poder exercer a própria angústia, que pode ser vibrante, e é sensual, é não existir de verdade. Angústia é combustível do conhecimento.
Para muito além do próprio tempo em que é lançado, de debates sem-fim sobre mulher, que se nasce ou não, que se torna ou não, Maria Madalena é filme de única bandeira: a da entrega genuína, da compreensão absoluta de uma mensagem que só poderia durar milênios se fosse mesmo praticada no cotidiano. O reino é aqui.
Sim, claro, louvada seja essa capacidade de percepção tão nuançada que a mulher tem, esse espectro tão sutil quanto alargado de compreensão. É só da mulher, e isso já basta para que seja tão superior e dispense discursos. Por tudo isso foi Maria Madalena em tantos momentos e não outros.
Além do mais, sobre o amor verdadeiro, creio como Unamuno e Bataille ser uma insígnia de erotismo, e por isso mesmo não precisa ser consumado para ser legítimo. Há amor que não se aguenta e irrompe como águas impetuosas, mas há também amor que, porque se esconde, como semente na terra, e cria raízes profundas, é que ascende e transcende.
Maria Madalena é níveo, intenso, poético. Uma proposta solene de relembrar – ou de tornar conhecido – o papel dessa mulher que foi tão importante para o Jesus, figura histórica; e não para o Cristo, figura religiosa. Ou, talvez, sim, para o Cristo.
O olhar de Garth Davis revela uma mulher inquieta, sim, mas também inteligente; corajosa para romper com tradições; elegantemente questionadora, do tipo que leva ao pensamento com gestos sutilíssimos, não com palavras; o que é típico de mulher que sabe quem é e o valor que tem.
Por tudo isso o aparente favoritismo, porque é mesmo irresistível – e o diabo talvez seja o único capaz de assumir.