Ode à Agustina, redundância

Foi em 15 de outubro de 1922, em Amarante, que nasceu Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa. Leitora desde os quatro anos, mudou-se várias vezes de casa e nas várias cidades pelas quais passou constituiu-se um dos maiores nomes da literatura portuguesa. Viveu em Gaia, Póvoa de Varzim, Águas Santas, Bagunte, Vila do Conde e Godim. Morreu em Porto.

Apesar de tão leitora, foi apenas em 1948 que publicou pela primeira vez. Quatro anos depois de ter casado com Alberto Luís, o homem do anúncio de jornal. História à parte.

Entre os tantos romances, A Sibila foi o que a tornou nome famoso. Com ele ganhou o Prêmio Eça de Queirós. E depois, ao longo da vida, tantos outros prêmios ainda, mas que mesmo tantos foram incapazes de louvar tamanha superioridade. Ode à Agustina é redundância porque ela é a própria poesia.

Agustina Bessa-Luís.

Foram mais de 50 anos de produção literária e mais de 50 livros publicados. Agustina Bessa-Luís despediu-se do mundo deixando o maior legado das letras elegantes. Minha escritora inspiradora. Minha mãe romântica, de língua igual a minha. Sabia Pondé que estava me dando um espelho para eu aprender a me ver maior.

Agustina me deu a mim e a esperança de conseguir um dia deixar de lado o medo do mundo. E consegui. Foi quando tornei o meu cotidiano árias de humor pungente. No resguardo dos meus sentimentos renasci sensual.

Porque aprendi com Agustina a olhar o essencial, não apenas o acessório. Aprendi a dedicar-me a dificultar as frases e a permeá-las de miudezas estéticas, porque só as miudezas estéticas dão cabo de dizer verdades profundas. Aprendi a despertar palavras do meu mais profundo silêncio e a fazer delas a magia que liga os mundos. Aprendi a, como ela mesma escreve, “corrigir a fortuna, que é cega.

Agustina escreveu: “A poesia aparece na minha prosa quando não tenho mais nada a dizer.” A poesia aparece na minha prosa quando não consigo dizer nada sem ferir a mim mesma.

Com a literatura de Agustina aprendi mais sobre purificação e amadurecimento. Aprendi a desprezar as causas, as militâncias que dão senso de importância. Preferi, depois de Agustina, a descansar no mistério.

Como se fosse uma razão trágica, Agustina livrou-me do esforço cotidiano de tentar ver graça no mundo. Primeiro vejo nas letras! E depois olho o mundo disposta a brincar.

É na riqueza profunda de Agustina que busco fincar raízes como escritora e me alimentar do grande enigma da vida, a sua função; do ser humano sem propósito esclarecido, mas que no mundo ocupa lugar e às vezes gera beleza. Às vezes. Beleza como ela. Como ela Agustina Bessa-Luís.

Se um dia me nomearem sua cópia banal; serei eu ainda a escritora mais feliz. Sou fruto de meu tempo. E só às vezes minha impaciência me salva da preguiça. Como hoje. Para homenageá-la.

 

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Eliana de Castro Escrito por:

Fundadora da FAUSTO, é escritora, mestre em Ciência da Religião e autora do romance NANA.

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